O Legado dos Ossos vem para enriquecer e explicar alguns dos detalhes que ficaram por resolver no final da primeira história (O Guardião Invisível), levando a história para lugares ainda mais sombrios. Quando deixamos Amaia no primeiro filme, ela tinha acabado de apanhar um psicopata, ter um confronto perturbador com a sua mãe institucionalizada, Rosario (Miren Gaztanaga), e descobrir que ela e o marido artista, James (Benn Northover), seriam pais.
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Esta segunda parte abre, no entanto, com uma cena ambientada em 1611, sobre um inquisidor chamado Alonso de Salazar, que descobriu que os habitantes locais fariam qualquer coisa para manter as suas práticas sinistras em segredo. Este início histórico segue bem com o final sobrenatural do primeiro filme, uma vez que estabelece a narrativa de que a crença no sobrenatural tem estado ativa na cidade natal de Amaia por séculos.
O filme avança depois para uma Amaia de volta da licença maternidade para um caso em que uma igreja foi vandalizada. Mas esta não é uma vandalização qualquer, pois há um braço do esqueleto de um bebé deixado no altar. Rapidamente, se percebe que tudo isto está ligado à bruxaria abordada no primeiro filme. Amaia e o seu parceiro Jonan perseguem uma série de pistas aqui e ali: Um maníaco na prisão que comete suicídio; a palavra TARTALO, que aparece em cenas de crime, referenciando um ciclope comedor de humanos da mitologia; as preocupantes leituras das cartas de tarot da Tia; um estranho visitando Rosário no hospital psiquiátrico, tudo isto entre alguns flashbacks assustadores da sua infância.
Este segundo filme tem um ritmo mais lento que permite que o espectador experimente cada pedacinho da investigação emocionante de Amaia. Ao longo da história, vai deixando pistas suficientes para que possamos decifrar o que se passa naquele momento, sem nunca revelar por completo o fim. Mergulhamos mais profundamente nos temas míticos e no folclore local, o que adiciona mais intensidade ao enredo e às personagens. A cinematografia húmida e nebulosa de alta altitude do filme traz realismo à sua história, e subtilmente leva-nos para um género mais sobrenatural.
O Legado dos Ossos não deixa de ter elementos aos quais se agarrar. A vida pessoal de Salazar é particularmente intrigante e aumentam as dimensões da personagem, especialmente depois de uma revelação importante a meio da história. A base sólida do filme no solo da mitologia basca é o que o torna uma experiência única e memorável. No entanto, ficamos a perder no aspecto do jogo do gato e do rato, perdendo um pouco aquela tensão de um filme policial, o que desilude um pouco as expectativas. Isto terá sido provavelmente feito de propósito para o desenvolvimento do terceiro filme, mas faz com que a história acabe por se arrastar um pouco. O maior defeito do filme é realmente o facto de se perder pelo meio e voltar a ganhar vida tarde demais.
No geral, O Legado dos Ossos não surpreende no género de ficção policial, uma vez que nunca avança completamente nessa direção. No entanto, ainda é bastante original e emocionante.
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