O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder – Primeiros Episódios
Publicado a 31 Ago, 2022

Chegou finalmente a hora. Voltar à Terra-Média é uma das coisas que mais gosto de fazer. A fantasia de Tolkien sempre me fascinou e apesar de não ser o maior expert de tudo o que este senhor criou, gosto sempre de descobrir detalhes novos. Ver uma nova produção dentro deste universo é um momento incrível para mim e acreditem que tal como nos livros, cada pequeno detalhe, nome ou localização me fez procurar mais sobre o que estava a ver.

O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder surge numa altura atribulada, talvez com o seu maior concorrente em andamento e já bem lançado. Mas, pessoalmente, quando se trata de Senhor dos Anéis, a magia é especial e única. A curiosidade sobre os acontecimentos desta série é muita e deixem-me que vos diga que os dois primeiros episódios conseguiram aguçar esse interesse ainda mais. 

Deixo desde já a nota que na minha opinião, este tipo de adaptações ou transformações para outros meios não tem de ser totalmente fiéis ao que se está a basear. Julgo que é muito mais importante apresentar uma história que tenha sentido no meio onde está a ser contada, baseando-se na sua origem. É importante não perder a essência da sua base e se há um ou outro personagem novo, ou se decidiram levar um personagem por caminhos relativamente diferentes, não deverá ser um problema, desde que ao assistir sinta que estou realmente naquele mundo.

Os Anéis do Poder vai estar disponível na Amazon Prime Video e conta a história da Segunda Era da Terra-Média, baseando-se em vários contos, poemas e vários rascunhos do próprio Tolkien. Não só isso como se inspira em várias passagens dos próprios livros completos. Segundo os próprios criadores, que tive oportunidade de ouvir numa conferência de imprensa exclusiva, esta foi a forma deles contarem o que ainda não foi retratado no meio audiovisual. Segundo os próprios, não houve muito espaço para liberdades criativas além do conteúdo base, mas tudo o que foi criado para esta série foi desenvolvido com o olho clínico da Tolkien Estate.

É importante deixar claro que as várias entidades que têmos direitos das obras de Tolkien supervisionaram esta série, de forma a termos um conteúdo conciso e bem estruturado. Deixo ainda a nota que este projeto começou a ser desenvolvido sem a obrigação de ser uma prequela aos filmes existentes. A série está oficialmente confirmada para ter 5 temporadas, sendo que já estão a trabalhar na segunda, mesmo antes da estreia desta primeira.

Produção de grande calibre!

Estes dois episódios são uma enorme introdução ao que aí vem, em todos os sentidos que possam imaginar. A montagem dos mesmos remete exatamente para essa ideia de introdução, colocando o espectador em vários pontos daquele mundo, mostrando quem está em cada um dos sítios e porque estão lá. Principalmente no primeiro episódio, senti que estava a ser levado numa viagem por todo aquele mundo, onde o realizador nos apresenta o mapa com a localização para onde vamos e nos explica que sitio é aquele. Mais importante foi colocar cada personagem no seu sitio e a sua importância para esta história.

O segundo episódio leva-nos a explorar um pouco mais detalhadamente cada uma das zonas apresentadas no episódio anterior, mas ainda falta muito por apresentar. Senti principalmente que estes dois episódios funcionam muito bem para qualquer espectador, não transformando a série numa complexa teia de tramas e colocando todos os pontos nos is. É uma forma inteligente de apresentar este universo a quem não consuma religiosamente conteúdos do autor original e colocando a maioria das peças do puzzle em cima da mesa, permitindo ao espectador ter uma visão mais alargada do que pode esperar desta série.

Um dos aspetos mais positivos que esta série me apresentou, e era um dos detalhes que mais medo tinha de não ficar realmente bom, foi o valor de produção do que estamos a ver. Esta série é uma das mais caras da história, com orçamentos elevadíssimos para cada um dos episódios e isso é realmente visível. O nível de detalhe colocado em cada cenário, interligando o digital com o real, funcionou de forma épica e estes primeiros episódios estão carregados de planos abertos, permitindo ao espectador absorver aquele mundo da forma mais incrível. Não fica atrás de qualquer um dos filmes.

Estrutura da narrativa não é agradável!

Estruturar uma série destas baseando-se em histórias por terminar, rabiscos e poemas é quase um trabalho herculano e talvez por essa razão, não senti uma verdadeira interligação entre tudo o que estava a ser contado. Apesar de serem apenas os dois primeiros episódios e servirem como uma boa introdução a tudo, parecia que a própria série estava dividida em rascunhos e bocados de texto por terminar. Os próximos episódios vão ser importantes para fazer essas ligações e mostrar que há uma história coerente a ser contada.

Esta falta de conexão entre tudo o que está a acontecer, coloca em cima da mesa diversos arcos de história, podendo vir a ser um problema no futuro da série e isso deixa-me algo hesitante. As produções anteriores deste universo foram construídas numa estrutura inversa, onde todos os personagens se conectam rapidamente, levando a várias ramificações de acordo com a jornada de cada um. Aqui acontece exatamente o oposto, mostrando as personagens já bem ramificadas em jornadas totalmente distintas, que claramente tem uma conexão, mas que ainda é demasiado fina para que tudo possa fazer sentido. Levar isto desta forma por muito tempo poderá tornar tudo mais confuso para o espectador e ser bastante negativo para a retenção.

As personagens acabam por sofrer igualmente disso. Apesar de uma prestação digna de todo o elenco, algumas personagens ainda estão muito deslocadas dos acontecimentos, não havendo motivos sérios ou interessantes para que eles realmente existam. Ainda estamos longe de saber o desfecho de cada uma, mas nestes primeiros episódios não senti que todos os personagens fossem realmente essenciais para o desenrolar do que sabemos que vai ser contado nesta série.

Experiência épica!

O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder apresenta-se como uma série épica e cumpre o seu papel. A verdade é que em todos os momentos senti que estava naquele mundo e a série faz um trabalho incrível de nos absorver para cada um dos cenários. A trilogia original de filmes é épica devido a um conjunto de motivos: a sua história, alguns dos seus personagens, os cenários e as batalhas! Esta série ainda tem algumas provas a dar, mas em dois episódios conseguiu mostrar um potencial incrível para ser tão épico como os filmes de há 20 anos.

Com muita história ainda por contar e muita coisa para estruturar fica a dúvida se os seus criadores e a Prime Video vai conseguir sustentar um nível épico durante muito tempo. E não me refiro a dinheiro, mas sim à capacidade da história manter uma narrativa saudável e eficaz ao longo das cinco temporadas programadas. São muitas horas e temo que acabem por existir momentos aborrecidos pelo meio. Além disso, alguns dos personagens criados para esta série podem acabar por servir apenas como extras para preencher momentos vazios e isso raramente é um aspeto positivo.

A verdade é que continua a existir muita incógnita nesta série e a única coisa que vos posso transmitir é que gostei da experiência de assistir a estes dois episódios. Senti que a Terra Média estava de regresso aos ecrãs com a qualidade que lhe é merecida. Resta-nos aguardar pelo desenrolar desta história para compreender se alguns dos pontos menos positivos aqui apresentados serão, ou não, resolvidos. Deem uma oportunidade e quem sabe saem satisfeitos!

Esta análise foi possível com o apoio da Amazon !
O Senhor dos Anéis: Os Anéis do Poder
The Lord of the Rings: The Rings of Power
  • Positivo
  • Produção e realização com níveis de qualidade muito elevados
  • Construção da Terra Média com detalhes e qualidade incríveis
  • Efeitos visuais de grande calibre
  • Negativo
  • Alguns personagens ainda sem grande explicação da sua existência ali
  • Desenrolar da história um pouco estranho e desconexo
Escrito por:
Eduardo Rodrigues
Considero-me um geek da cabeça aos pés. Adoro uma boa leitura, apreciar a arte da BD e da Manga, ver de uma assentada aquela série ou anime incrível, ir ao cinema e devorar um filme e deliciar-me com uma aventura interativa nos videojogos e nos jogos de tabuleiro. Sou um adepto da mágica Briosa e um assistente fervoroso no estádio.