Pokémon Unite
Publicado a 29 Jul, 2021

Não é com surpresa que me ouvirão dizer que o franchise do Pokémon teve bastante impacto na minha infância. Levou-me a comprar (ou antes, a pedinchar aos meus pais por) um GameBoy, ensinou-me inglês, levou-me horas de sono, mostrou-me que uma corporação que cria conteúdo para crianças pode ser maldosa o suficiente para criar duas versões quase exatamente iguais do mesmo jogo, entre outros aspetos. Apesar de com o tempo (e independência financeira) me ter eventualmente libertado das garras da The Pokémon Company, volta e meia a nostalgia deixa-me tentado a molhar o pézinho. A última tentação veio na forma de um MOBA (Multiplayer Online Battle Arena): Pokémon Unite.

Antes de mais, é melhor colocar-vos a par do meu ponto de vista. Sou um nabo neste género. Quando se fala em MOBA, o primeiro jogo que me vem à cabeça, apesar de haver outros, é o League of Legends.

League of Legends é um jogo que facilmente vos leva pela noite dentro e, por isso, quando há uns anos me disseram “hey, este jogo é fixe, tens que experimentar”, a minha resposta foi “não, não, o que tenho que fazer é acabar o curso”. Nunca lhe toquei e foi assim que se perdeu o que teria sido o maior campeão de League of Legends do mundo e arredores e ninguém tem provas do contrário. Adiante. Apesar de nunca ter jogado, já estive no lugar de espectador o suficiente para me sentir confortável com as comparações e afirmações que vou fazer.

Para aqueles que como eu nunca se aventuraram pela toca desse coelho, MOBA é um género onde uma série de jogadores formam duas equipas que são atiradas para uma arena onde competem por domínio numa batalha à base de estratégia em tempo real e furiosos cliques de rato (e o ocasional teclado voador). Além de viciante e competitivo, é um tipo de jogo que se joga muito bem com amigos (ou contra inimigos).

Entra Pokémon Unite, desenvolvido pela Timi Studio Group, que é, para todos os efeitos, essencialmente um League of Legends mais simples, mais casual e com pokémons. Ou seja, tem tudo para ser um bom jogo para me iniciar no género. Mais, é um jogo desenvolvido para a Nintendo Switch e que se espera chegar a Android e iOS em Setembro deste ano. Isso significa que serve uma audiência um pouco diferente: a malta que quer jogar sem estar presa ao computador, que gosta de jogar em viagem, em filas de espera, no sofá, na cama, na casa-de-banho, por aí fora.

Entrando no jogo em si, levei logo uma facada na infância ao ver os pokémons “des-evoluirem” no trailer, mas saltando esse primeiro pequeno choque, fui atirado para um tutorial relativamente simples e direto que me ensinou o básico da poké-batatada na arena. Tal como é da praxe, o jogador pode escolher um pokémon (de 20 diferentes) e criar a sua estratégia pessoal com base em diferentes ataques e itens. Não que haja muita escolha, mas existe.

Na arena, entramos na pele do pokémon escolhido e andamos às voltinhas a disparar ataques contra outros pokémons inocentes para juntar “bolas” (bem, eles chamam-lhe “energia”, mas na prática são bolas e toda a gente que vi jogar lhes chamou “bolas”, por isso são “bolas”) e subir de nível para evoluir e ganhar vantagem sobre os nossos oponentes. Cada equipa tem umas zonas onde os oponentes podem deixar as tais “bolas” e marcar pontos. A equipa com mais pontos ao fim de 10 minutos ganha.

Cada pokémon tem ataques e propriedades diferentes que trazem alguma variedade a um jogo que rapidamente consegue tornar-se repetitivo. Apesar da repetibilidade, dada a natureza portátil das plataformas, diria que é um bom passatempo especialmente para momentos mortos.

Saltando para o lado negativo, uma das primeiras coisas que me chamou a atenção foi o sistema de direção dos ataques. É mais difícil de apontar na ausência de um rato e o mecanismo de auto-aim muitas vezes faz mais mal que bem, direcionando os ataques aos alvos errados.

A minha opinião fica mais negativa quando saímos da arena. Mesmo depois de ter jogado umas horas, continuo sem compreender a quantidade de “moedas” diferentes ou porque é que tenho que andar a saltar entre menus para recolher recompensas. Parece-me desnecessariamente complicado considerando que o sumo do jogo é bastante simples e direto.

O meu último ponto negativo, e também o mais importante, prende-se com a estratégia de monetização. O jogo é gratuito (yey!), mas recorre a microtransações (oh deus, porquê?). É-me difícil dizer ao certo quanto é que isso afecta o lado competitivo do jogo. No entanto, facto é que por vezes me deparo com oponentes que, apesar de estarem ao mesmo nível, são capazes de me dar uma sova valente sem eu sequer conseguir fazer mossa. Será falha minha de iniciante? Será algum tipo de vantagem oferecida através de investimento monetário?

Até ao momento, não encontrei nada no jogo que não pudesse ser obtido de forma completamente gratuita, mas uma breve pesquisa revelou-me que investir dinheiro no jogo acelera muito a capacidade de obter itens mais poderosos que darão vantagem em batalha. Portanto, fica o aviso. O futuro dirá se isto terá impacto ou não na longevidade do jogo.

Outro ponto de quero salientar, se bem que menos relevante excepto talvez para os fãs do franchise é que apesar dos pokémons iniciarem cada partida na sua forma básica, não existem os estágios de “bébé”. Ou seja, por exemplo, o Pikachu começa como Pikachu e não como Pichu. Além disso, o Pikachu não evolui, porque marketing.

Adicionalmente, o jogo inclui um sistema de fair play à base de pontos. Caso um jogador não seja simpático e, por exemplo, abandone uma partida a meio, efectivamente criando desvantagem para a própria equipa e tirando toda a piada da competição para os restantes jogadores, irá perder pontos de fair play. Se perder pontos suficientes, fica restringido no tipo de partidas em que pode entrar, podendo no limite só poder jogar contra o computador até recuperar esses pontos.

Essa medida pareceu-me justa até o router decidir fazer greve durante uns minutos. Creio que esse sistema poderá levar a algumas injustiças. Normalmente, o caso que descrevi deverá ser raro, mas convém notar que o jogo corre em dispositivos móveis, que podem estar sujeitos à vontade dos deuses do Wi-Fi.

Antes de terminar, no que toca à performance do jogo na Nintendo Switch, não tenho queixas nenhumas. Comparando com Breath of the Wild, por exemplo, a consola mal aquece. É um jogo leve em todos os sentidos.

Por fim, vale a pena? Meh. Consigo ver o potencial viciante do jogo, mas tenho dúvidas que algum dia chegue à dimensão dos seus competidores a menos que faça algumas extremas correções, especialmente no que toca ao desequilíbrio entre jogadores (pagantes e não pagantes), porque mesmo que esse desequilíbrio seja pequeno, o simples facto de existir tem potencial para levar pessoas a abandonar o jogo. Com partidas limitadas a 10 minutos, diria que foi desenhado para se saborear nos intervalos de algo melhor.

Antes de me ir embora, dada a natureza dos jogos modernos, convém lembrar que tudo o que está descrito neste artigo reflecte apenas o estado actual e o jogo poderá e provavelmente irá ser actualizado no futuro. Esperemos.

Pokémon Unite
Pokémon Unite
Distribuição: ,
Estúdio:
Plataformas:
Lançamento: 21 de Julho de 2021
  • Positivo
  • Pokémones!
  • Leve e fácil de aprender.
  • Portátil.
  • Negativo
  • Competição pode não ser muito competitiva graças ao poder do dinheiro.
  • Menus mais complexos que o jogo.
Escrito por:
Pedro Cruz
"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...