Desde 198,7 quando Arnold Schwarzenegger reclamou para si o papel de caçador de alienígenas pela primeira vez que sabemos que o Predador não é invencível. No entanto, excluindo o original, todas as reiterações que se seguiram decidiram mergulhar na visão de ficção científica curta em vez de optar por uma ação mais corajosa. Isto era verdade até ao novo filme da franquia. Prey, a prequela das prequelas, chega-nos este ano e leva-nos atrás no tempo até 1719, colocando a sua protagonista em Naru (Amber Midthunder), uma nativa americana que se depara com uma destas criaturas extraterrestres, para além da visita indesejada de colonizadores.
Prey oferece o tipo de abordagem despojada que a saga há muita necessitava, grande parte do mérito devendo-se ao realizador Dan Trachtenberg que cria uma excelente visão moderna do original. Passamos a primeira parte do filme com Naru silenciosamente intensa, mostrando-nos a dinâmica da sua tribo, e dando-nos tempo para apreciar o deserto acidentado e indomado das Grandes Planícies do Norte. Naru foi criada à sombra de alguns dos caçadores mais lendários que vagam pelas Grandes Planícies, e sente que tem algo a provar. Quando o perigo ameaça o seu acampamento, ela decide proteger seu povo. A presa que ela persegue, e finalmente confronta, acaba por ser um predador um pouco diferente do que pensava, resultando num confronto cruel e aterrorizante entre os dois adversários.
A fotografia e a banda sonora hipnótica tornam fácil perdermo-nos no seu mundo enquanto Naru vai melhorando as suas habilidades como caçadora. O Predador solitário vai aparecendo – quando não está camuflado – e aos poucos estabelece-se como o caçador alfa. As suas narrativas convergem numa sequência visceral que ficará gravada na memória de todos os fãs para sempre, e o filme agarra-nos com os dentes daí adiante pela garganta e não nos deixa escapar.
Os amplos espaços abertos de Alberta são fantásticos no ecrã. Mas para além de paisagens extraordinárias, temos muito caos e ação. É assustador e divertido ao mesmo tempo que provoca uma resposta emocional surpreendentemente terna. Quando Naru finalmente solta o grito de guerra que lhe tinha negado anteriormente, não podemos não nos comover.
Prey funciona porque a sua protagonista não é o típico de herói de ação, musculoso e cheio de armas pelo qual estes filmes são conhecidos. Em vez disso, Naru é um ser humano inteligente e observador, e os seus encontros ocasionalmente tensos com o irmão e outras tribos dão ao filme uma carga emocional perfeita. Acrescentado ao perigo do predador, temos ainda todas as ameaças naturais mortais e os caçadores estrangeiros (cujos diálogos em francês não são traduzidos fazendo um paralelo com a sua própria “invasão alienígena” a um território que não é deles. Estes fatores apenas tornam o filme melhor, deixando de ser apenas um filme de ficção científica.
Um detalhe que não poderia deixar de ser discutido é o facto de Prey ser produzido por Jhane Myers, um membro da nação Comanche, e a maioria do elenco serem próprios nativos americanos ou canadenses, sugerindo um admirável compromisso com a autenticidade. Este, torna-se assim, facilmente, o melhor filme da franquia que tivemos desde o original, com uma protagonista bem desenvolvida (e seu excelente cachorro), uma rica base cultural e uso inteligente de um monstro icónico do filme. Ficamos a desejar que mais filmes de ficção científica adotem este tipo de abordagem fundamentada.
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