Esta análise foi feita com base numa cópia eletrónica do livro foi cedida em troca de uma opinião honesta. Lançamento oficial no dia 1 de maio
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Seeds of War (Sementes de Guerra, livremente traduzido) escrito pelo autor português João F. Silva, que atualmente reside em Inglaterra, é um romance auto-publicado e escrito em inglês, que promete deixar a sua marca no mundo do self-publishing. Silva que já tinha publicado antes um pequeno conto no mesmo mundo de Seeds e escrito para revistas de fantasia e ficção científica, aventura-se agora num romance completo, o primeiro da saga The Smokesmiths, cheio de magia, batalha e explosões.
This was what monarchs did. They stomped on those who weren’t at their height.
Passaram-se 10 anos desde que as Crismson Wars terminaram, com todos os monstros que atormentavam o Known World exterminados e um novo continente emergido do mar. Gimlore, uma antiga veterana na guerra e mãe solteira, decidiu deixar a vida sangrenta para trás e começar de novo neste novo continente, Alarkan. Em Alarkan, Gimlore ajuda antigos criminosos e refugiados da guerra a fazer como ela e deixar as antigas vidas para trás, estabelecendo uma pequena aldeia onde prosperam pacificamente. Ao explorar este novo continente, Gimlore descobre um Elixir que confere poderes a quem o toma e institui uma linha de contrabando desta droga aos reinos do Velho Continente, enriquecendo rapidamente. Mas é uma questão de tempo até os poderosos reinos procurarem o Elixir e esta riqueza por eles próprios e meterem a segurança e independência da aldeia de Gimlore em perigo. Uma das principais figuras que procura ativamente este Elixir é Orberesis, um ladrãozeco aldrabão que convenceu milhares de pessoas que é um Deus e agora lidera uma legião de crentes e fanáticos. Mesmo com todas as regalias que a Fé lhe proporciona, Orberesis é atormentado por dores e acredita que só com o Elixir de Alarkan vai conseguir viver uma vida pacífica. Para além destes dois complexos personagens, seguimos também o meu favorito: Rednow, um velho e lendário líder de uma liga de mercenários, os Leeth, que resiste à sombra da reforma que se aproxima. João F. Silva utiliza estas personagens quebradas e cinzentas para explorar a tirania e poder, a fé cega e o trauma e luto de forma natural e bem integrada na narrativa.
Como sei que muitos leitores deste género gostam de ação rápida e sem parar, lamento informar que a primeira metade deste livro é algo lenta e é só no último terço é que Silva engrena outra mudança e as batalhas e ação épica que esperamos deste género acontecem. Porém, este início lento é necessário, e a meu ver bem-vindo, uma vez que Silva aproveita para estabelecer bem os personagens principais, as suas motivações e os seus passados. Admito, no entanto, que por vezes o diálogo interno de alguns torna-se repetitivo, mas garanto que no fim do livro conhecem os três personagens principais como a palma da vossa mão, o que faz o clímax final, em que as três narrativas convergem, mais emocionante. O final apesar de bastante satisfatório, tem alguns momentos previsíveis e convenientes e os últimos dois capítulos são empanturrados de exposição, que foi pouco natural e uma forma fácil de explicar ao leitor (e às personagens) o que tinha acontecido, e onde o paradigma show, dont tell foi um pouco ignorado.
Como ávido fã de worldbuilding não podia deixar de comentar o Known World de Silva, que pareceu-me ter ficado apenas explorado à superfície. Apesar de termos algum cheirinho das diferentes culturas, espécies animais e do potencial do sistema de magia criativo, teria apreciado um pouco mais de descrição neste mundo, que dá para ver estar completamente realizado na mente do autor. Focando especialmente no sistema de magia, em que alguns sortudos (ou azarentos) são capazes de incendiar determinadas ervas e usar o fumo para aceder a poderes especiais e otimizar as suas aptidões físicas, difere de outros sistemas de magia similares, uma vez que o uso do fumo tem um custo destrutivo para o smokesmith, fazendo com que as consequências de a usar tenham mais peso emocional. Apesar de pouco explorado, Seeds of War, como primeiro livro de uma saga, faz um excelente trabalho a deixar vontade de voltar a este mundo e de ler o próximo volume.
When someone finds peace, there will always be some trying to protect it and others to steal it. That’s the paradox. You extinguish it by trying to preserve it.
Em suma, Seeds of War é uma boa história de fantasia, sobre não deixar o passado corroer o nosso futuro, sobre lutar contra a tirania, sobre proteger os que amamos a todo o custo e sobre os perigos de seguir cegamente os que se apresentam como poderosos. Com personagens e sistema de magia cativante, que embora com um início lento e final como muita exposição, traz boas horas de entretenimento e deixa vontade de revisitar o Known World no futuro.
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