Importa referir que o jogo Still Wakes The Deep é uma verdadeira golfada de ar fresco no género de videojogos de terror em pleno ano de 2024. Podemos dizer que se trata quase de um “jump-scare” agradável, que desperta o nosso lado mais curioso pelo macabro, pela aventura e pelo desafio de sobreviver num ambiente hostil.
Tendo jogado o jogo numa Xbox Series S, confirmo que o mesmo corre de forma agradável, sem nenhum problema de perda de FPS, notando-se, somente, alguma indefinição nos detalhes de algumas das texturas do meio ambiente e que, em casos mais extremos, poderão aparecer alguns grãos ou pixéis.
Tomando partido de uma história verídica, o jogo transporta-nos para o ano de 1974/75, ambientado numa plataforma petrolífera, no meio do oceano, rodeados pela incerteza do horizonte disfarçado com uma muralha de nevoeiro cerrado. Assumindo o papel de um eletricista Cameron “Caz” McLeary, sujeitamo-nos a trabalhar nas condições mais adversas de modo a procurar um novo modo de vida e de arranjar sustento para a nossa família. Após uma ambientação de jogabilidade interessante e na aprendizagem simbiótica das mecânicas do jogo enquanto a narrativa se desenvolve, apercebemo-nos que algo de muito errado está a acontecer no nosso ambiente de trabalho.
Perseguidos por seres orgânicos monstruosos e com diversas formas, somos obrigados a fugir a resgatar os nossos colegas de trabalho. É neste ponto que o jogo brilha. A necessidade de sobreviver, sem qualquer tipo de arma, recorrendo somente à inteligência do jogador, num jogo do “rato e do gato”.
Se me permitem, devo dizer que se estão a pensar que o jogo só consiste na exploração, em massa, de sermos perseguidos por alguém, estão redondamente enganados. Mais do que o medo da perseguição, são também explorados os medos das alturas, de espaços fechados, de zonas amplamente abertas, o canónico medo do escuro, entre outros. Na grande parte, vários destes medos são conjugados de modo a nos desafiar. Ficamos sempre com a sensação de que nada no jogo era previsível e isso é ótimo para qualquer narrativa que explore o conceito de terror ou que verse sobre o mesmo.
Perdemos a conta às vezes em que nos assustamos ou tivemos de pausar o jogo para “respirar” ou “recuperar” do susto. Importa referir que os sustos são proporcionados por diversos fatores, sem ser, na grande parte, com monstros ou pessoas. Por vez, um elevador a fazer barulho, uma conduta de vapor sob pressão a rebentar à nossa frente, uma gaivota a cair desgovernada quase em cima de nós, uns passos estranhos sobre uma plataforma inundada, em suma, um tutti-frutti de novas fobias ou arrepios na espinha para dar e vender.
Por outro lado, por experiência pessoal, afirmo que Still Wakes the Deep trabalha bem o sentido do oculto/ocultismo, através dos sons. Ao jogar com fones de audição 3D foram várias as vezes em que pensava estar a ouvir o som grotesco de um monstro, mas afinal era uma máquina a funcionar indevidamente ao longe. Estes aspetos fomentam o nosso imaginário perante situações de stress ou de terror.
O jogo quase que nos ajuda a controlar estas emoções, de forma fria, de maneira a não pensar demasiado sobre as coisas e garantir, somente, a nossa sobrevivência. A superação do medo do incerto, do nosso imaginário e do real grotesco serão talvez as grandes recompensas que este jogo nos pode proporcionar. Nos fins de cada capítulo, sentimo-nos literalmente aliviados, respirando fundo e sentido, estranhamente, um orgulho por ter sobrevivido ao nível do jogo.
Embora Still Wakes the Deep seja um jogo de terror fenomenal, existem alguns aspetos a ter em conta. Destaco primeiro a questão da longevidade do jogo. Em média, são necessárias 4 a 6 horas para completar o jogo na sua totalidade. Não dizemos que tal condição é precisamente um fator negativo, mas que pela adrenalina da fuga e do medo, no final, parece-nos que o jogo poderia ter sido prolongado por mais uma hora. Contudo, volto a reforçar a ideia de que no todo, a narrativa e o desenlace dos acontecimentos na história possuem um ritmo forte, incessante e colossal.
Por outro lado, gostaríamos ainda de apontar para o problema do lançamento dos objetos de modo a distrair os monstros. Foram várias as vezes em que morri ao lançar uma chave de fendas ou uma caneca para longe, para a ver a bater de seguida contra os meus pés, por causa de um hit box manhoso, mal ponderado ou planeado.
O jogo Still Wakes the Deep conta atualmente com uma votação positiva na Steam e no Metacritic, tendo conquistado o coração dos amantes de jogos de terror. Pode ser ainda cedo para lançar os dados, mas não iremos estranhar em ver o jogo Still Wakes the Deep nomeado a jogo de terror do ano.
Redes Sociais