A primeira temporada de The Great focou-se na adaptação de Catherine (Elle Fanning) à sua nova vida como a mulher do Imperador Russo, Peter III (Nicholas Hoult), até ao momento em que conseguiu juntar apoiantes suficientes para começar a revolução, que levaria a destronamento do seu marido incompetente, e a tornar-se a nova imperatriz da Rússia. A segunda temporada começa poucos meses depois do final da primeira.
Catherine está grávida de 4 meses de Peter e tem os seus apoiantes, especialmente o sempre bêbedo general Velementov (Douglas Hoge), o académico Orlov (Sacha Dhawan) e a tia de Peter, Elizabeth (Belinda Bromilow) a ajudá-la com os meticulosos planos de invasão. Por outro lado, Peter continua com a sua visão otimista, narcisista e completamente desligada da realidade, a dar festas e banquetes para se congratular da sua “eminente vitória”.
Se tudo isto vos parece como algo de que já ouviram falar, é porque a série na verdade baseia-se na história real de Catherine The Great, a aristocrata alemã que usurpou o trono do seu marido, Peter III, e tornou-se a maior e mais progressiva líder do império russo. Mas, apesar de sempre admitir que segue a história real de Catherine, a série também sempre admitiu que o faz de forma muito leve e aberta, deixando espaço aos escritores para introduzirem temas modernos, personagens hilariantes, mistérios e reviravoltas que nos deixam colados ao ecrã.
Se estás à espera de ver uma série histórica, que te apresenta a vida da aristocracia russa e como Catherine se tornou imperatriz, The Great não é a série para ti. Mas se te queres divertir com versões modernas de personalidades da aristocracia russa, não percas mais tempo! E se ainda não estás convencido/a, espero que este artigo te ajude.
O primeiro episódio foca-se nas tentativas de Catherine em roubar o trono a Peter. Isto sem o matar, para que este possa abdicar voluntariamente e a tornar a imperatriz aos olhos de toda a Rússia. A história do lado de Peter foca-se em como este finalmente se apercebe de que os seus “não-planos” não vão levar a lado nenhum e tenta escapar.
Ao contrário da primeira temporada, que se focou mais em Catherine a tentar sobrevier ao mundo complexo da aristocracia russa, a segunda temporada toma uma direção bem criativa e necessária. É mostrado a mesma história de dois ângulos diferentes, o lado de Catherine e dos seus apoiantes contra o lado de Peter e o seu grupo. Mas já lá chegaremos.
No final do primeiro episódio, chega o momento de que todos esperávamos. Mas como sempre nesta série, não acontece da forma que imaginámos. Peter consegue fugir e barricar-se numa das suas casas de férias no campo, guardado por soldados Kasak. Mas Catherine capturou o seu cozinheiro e começou a cozinhar os seus pratos para o convencer a render-se à fome e ao desespero. Bem, este estratagema fez efeito num par de horas, em que Peter decide trocar a sua linhagem, trono e título por um simples jantar. Em troca, Catherine concorda em deixá-lo vivo e em poder brincar com o filho quando nascer. Mas não sem uma chapada de luva branca de Peter, ao apresentar a Catherine a cabeça do seu amante Leo, o que a deixa traumatizada enquanto à sua volta os seus apoiantes gritam vitória.
Para quem não viu a série, ainda pode parecer que Peter fez isto de maldade, mas na verdade na sua mente infantil e desligada da realidade, isto é um gesto de paz para com Catherine. Como ele próprio diz “Eu sei que o amavas por isso, trouxe-te a cabeça dele para o poderes ter contigo”.
Este humor exagerado de Peter ao ser completamente desligado da realidade e achar que as coisas vão acontecer simplesmente porque ele acredita, foi sempre um dos pontos mais fortes em The Great. Mas nesta segunda temporada toma outra importância.
Durante grande parte dos próximos episódios, temos duas histórias paralelas que se vão cruzar várias vezes. Por um lado temos Catherine, a otimista e idealista aristocrata alemã que tem visões de grandiosidade e inovação para o seu novo império mas que continua a cometer erros, por causa da sua juventude e ingenuidade política. Por outro, temos o narcisista e ainda mais infantil Peter, que se vê confrontado com uma realidade que nunca tinha aceite antes, tendo de amadurecer para lidar com a mesma.
Enquanto estas duas histórias se continuam a interligar, vemos crescimentos em ambas personagens que fazem a ténue linha entre heroína e vilão quase desaparecer. Catherine vai continuar a tentar impor as suas ideias num país que se recusa a aceitá-las, mostrando o seu lado infantil, enquanto por outro lado Peter, vai continuar a amadurecer e tornar-se uma pessoa que Catherine possa amar.
Sim, nesta fase da história Peter está verdadeiramente apaixonado por Catherine e está disposto a melhorar-se (ou pelo menos a sua versão de melhorar) para lhe agradar, enquanto Catherine continua a tentar equilibrar um império partido, uma corte que a odeia, e o trauma de a sua revolução ter levado à morte do seu amante.
Mas não é apenas nos dois personagens principais se nota esta confusão entre herói e vilão. Temos vários membros de ambos os lados a questionarem se tomaram o lado certo na revolução. Velementov questiona-se se Catherine não está a transformar todo os seus apoiantes em fantoches para ter o que quer. Orlov teme que Catherine está a deixar de ouvir todos os seus conselheiros e Grigor (Gwilym Lee) questiona a vontade de Peter em governar a Rússia.
Entretanto, vários momentos históricos na vida de Catherine The Great são representados na série. Como a primeira feira de ciência organizada na Rússia, a primeira tentativa de Catherine em libertar os escravos russos, a guerra com os Ottomans (sempre da forma mais hilariante e extravagante possível). A reviravolta na temporada acontece quando, num momento inesperado, a mãe de Catherine vem visitá-la à Rússia.
Numa altura em que Catherine e Peter estavam finalmente a voltar a ser um casal apaixonado e Peter tinha oficialmente desistido de ser imperador, admitindo que nunca quis empenhar este papel e que simplesmente foi forçado a tal por ser filho de quem era, chega a super-protetora, manipuladora e cheia de luxúria Joanna (Gillian Anderson).
Ao contrário do que muitos podiam esperar, Joanna vem à Rússia para tirar a sua filha do poder e voltar a por Peter nesse lugar, com a desculpa de que quer proteger Catherine. Mas a verdade é que ela quer quer casar a sua filha mais nova com o rei de França, que está muito reticente por Catherine ter roubado o império ao seu marido. Durante este processo, ela faz Catherine questionar todas as suas ideologias, todas as suas decisões e até as suas alianças, tentando manipulá-la a matar todos os seus apoiantes.
Por contraste, Joanna acha Peter muito atraente e apaixonante e durante toda a sua estadia tenta ter sexo com o mesmo, apesar de este, ao contrário do seu normal comportamento de se deixar levar pelos seus impulsos sexuais, continua a negá-la por respeito a Catherine e à sua relação com a mesma.
No final, há dois desfechos bem diferentes para estas duas histórias. Mas que ambos levam ao final trágico de Joanna. Catherine consegue finalmente ver a verdadeira personalidade da mãe e expulsa-a da Rússia, cortando relações com a mesma. Por outro, Peter não consegue resistir aos avanços de Joanna e na noite antes desta deixar a Rússia, ambos têm relações que levam à acidental queda de Joanna de uma janela e à sua morte. Este será o catalisador para o final da temporada.
Com o nascimento do seu filho, Paul, Peter e Catherine numa relação românica, um equilíbrio finalmente parece ter sido encontrado no palácio para Catherine poder governar em paz e lidar com o Sultão do império Otomano.
Mas The Great não seria The Great, se a paz se mantivesse durante muito tempo. Grior, que neste momento está numa relação com a melhor amiga de Catherine, Marial (Phoebe Fox), deixa escapar o que aconteceu relativamente à morte de Joanna, que até agora tinha sido mantido em segredo.
Quando Catherine descobre o que aconteceu e Peter fica a saber que esta sabe, os dois, apesar da sua relação, vêm apenas uma saída desta situação. Têm de matar o outro. Catherine quer matar Peter por ter tido sexo com a sua mãe e por ter traído a sua de confiança. Peter não quer matar Catherine, mas sabe que neste momento, ele a mata a ela ou ela o mata a ele.
Após voltar de lidar com o Sultão e o matar, Catherine e os seus apoiantes ficam frente a frente com Peter e os seus apoiantes durante um casamento. Esta cena perfeitamente reflete o momento que se passa na série, com ambos os lados frente a frente, novamente completamente separados, sem qualquer nuance, com armas escondidas, dispostos a matar o outro. O momento é de grande tensão até que Peter pede para falar.
Aproveitando que estão num casamento, Peter decide falar sobre perdão e sobre problemas que as relações e os casamentos têm e Catherine decide responder com um discurso sobre limites e consequências das ações. É um dos momentos marcantes da temporada, com ambos os discursos a serem uma metáfora sobre a jornada que cada um ultrapassou durante os 10 episódios. Com Peter a demonstrar que é definitivamente uma pessoa mudada (pelo menos com a capacidade de autocrítica) e que se aproxima do que Catherine era no início da temporada. Alguém com novos ideias e sonhos mas que têm dificuldade em realizá-los. No outro oposto, Catherine aproxima-se mais do que sempre vimos de Peter, alguém mais narcisista e que está pronta para derramar sangue para fins pessoais, sem pensar nas consequências.
Surpreendentemente, o casamento e este confronto acaba sem qualquer tiro ou morte e a festa continua. Mas, quando tudo parece estar a aproximar-se de um final anti-climático, Catherine decide enviar os seus soldados para prender a maior parte dos aristocratas russos (incluindo alguns dos seus apoiantes) enquanto vai ao quarto de Peter para o matar.
Infelizmente, quando chega ao quarto e consegue ultrapassar os seus sentimentos e finalmente esfaqueá-lo pelas costas, enquanto chora de dor, o verdadeiro Peter aparece e Catherine apercebe-se que esfaqueou um dos seus sósias.
Na cena final da temporada, ambos se abraçam e olham para o caos que está a acontecer no palácio sem saber o que fazer a seguir.
Quando eu esperava que esta ia ser a última temporada de The Great, os criadores surpreenderam-me e constrõem os alicerces para uma terceira temporada e que eu recebo de muito bom grado! O que vão fazer Catherine e Peter de seguida? Porque é que Catherine mandou prender alguns dos seus aliados? Peter será mesmo uma pessoa mudada? E muitas mais questões ficaram por resolver e terão de esperar pela terceira temporada.
Se ainda não viram The Great, façam-no agora porque definitivamente não querem perder esta história. Para além hilariante, tem personagens complexos, histórias apaixonantes e não tem medo de falar de tópicos modernos como identidade de género e sexual, diferenças sociais e económicas, sexismo na política, manipulação da informação por parte do Estado e muito mais!
Por isso, comecem agora a ver as duas primeiras temporadas para se prepararem para o ano poderem ver a terceira temporada e ver como esta versão da história de Catherine vai acabar.
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