The Idol
Publicado a 06 Jul, 2023

Uma Péssima Melodia

Prometeu ser a série do ano. Começou mal, mas pareceu que ia ficar boa, até que acabou da mesma forma como começou. Bem-vindos a The Idol.

Este artigo contém spoilers da série.

Bom, polémicas à parte, estava muito ansioso por The Idol desde que foi anunciado. Tinha tudo para dar muito certo: um elenco de peso com grandes nomes da música e do cinema, o criador de Euphoria e um dos maiores canais de TV da atualidade. Mas de alguma forma conseguiu correr muito mal.

Vamos começar pelo lado bom, a cinematografia é incrível, não há como não amar e ficar chocado com a beleza dos takes com que somos presenteados durante a série. A somar a isso também não podemos negar que a Lily-Rose Depp brilhou e salvou uma enorme quantidade de cenas ao longo dos episódios. Não só ela, como os atores no geral que me conseguiram fazer apaixonar pelos personagens que representavam apesar das falhas narrativas.

Entrando no assunto de falhas narrativas, aqui está o maior problema desta série. Simplesmente não faz sentido. A única forma de conseguir gostar e perceber a mensagem de The Idol é inventando teorias para os buracos da história.

Começamos por conhecer a Jocelyn, uma estrela da música muito famosa, que está no meio de uma crise devido à morte da mãe. Já há 1 ano que a artista não lança música nova e vemos toda a equipa por detrás dela a pressiona-la para que lance um novo single. Esta é parte interessante da série e onde reside grande parte do potencial não aproveitado. As conversas de backstage e as dinâmicas entre os agentes, a gravadora, os jornalistas e outros intervenientes do mercado são muito intrigantes e nos primeiros episódios foi o que me manteve curioso e interessado, em parte devido às críticas sociais que podiam sair daí.

O problema é que esta temática perfaz apenas metade dos episódios, porque rapidamente somos apresentados a Tedros, um personagem horroroso e anti climático que se começa a aproveitar da fragilidade da Jocelyn para dominar a casa dela, as pessoas que trabalham para ela e a sua vida em geral. E com isto somos amaldiçoados com cenas constantes de sexo e nudez sem qualquer propósito ou sentido. Elas simplesmente estão lá a existir não sei muito bem com que intuito.

Andamos quatro episódios nesta dinâmica e ao mesmo tempo a conhecer melhor os artistas do Tedros, que agora também vivem na casa da Jocelyn, e os amigos da própria. Lá no meio vemos também excelentes músicas a serem produzidas, apesar de serem um pouco desperdiçadas pelo marketing da série. Tantos artistas famosos, tanta música boa e mal vimos isto a ser promovido. Porque não lançar por exemplo o videoclip da Jennie a cantar a World Class Sinner? Até podia não aparecer no episódio, mas era uma forma de trazer quase que uma realidade aumentada onde tínhamos acesso a conteúdos reais que estão inseridos na narrativa da série, mas que só estão disponíveis em outras mídias sem ser os episódios, teria feito com que tudo fosse muito mais especial.

Mais bem, tudo isto para no final, no episódio cinco, vermos a Jocelyn a lembrar-se do nada que afinal não gosta assim tanto do Tedros e que o quer ver pelas costas, enquanto ganha consciência total da sua vida e carreira e quer agarrar a oportunidade de voltar aos holofotes. Sim, no episódio anterior ela descobriu através da personagem da Jennie que tudo tinha sido planeado pelo Tedros, e que estava a ser enganada, mas a troca de sentimentos repentina da Jocelyn, levando em consideração que estamos a falar de uma personagem frágil, não faz qualquer sentido, foi demasiado abrupto e não foi construído.

Mas honestamente, até aí não estava a detestar, pensei para mim mesmo: pelo menos vai acabar bem. E sendo que a Lily-Rose Depp me fez lowkey apaixonar pela Jocelyn, estava investindo emocionalmente. A Jocelyn decide então pedir ao agente para se livrar do Tedros e aproveita as relações que criou com os artistas dele para os lançar na música e salvar a sua tour.

Na reta mesmo final percebemos então que a vida da Jocelyn vai muito bem, esgotou a tour e teve três hits seguidos de sucesso, até onde entendemos, ela é neste momento uma, se não a maior artista da atualidade. É estranho, porque nunca contactamos realmente com o nível de fama dela ou com o impacto dos artigos ou da legião de fãs dela. Nunca nada disto fica claro ou é mostrado, o que é uma pena, porque acho que é um elemento essencial se queremos mostrar os problemas da industria musical.

Mas é aí, quando pensávamos que ia acabar tudo bem, que Tedros reaparece e descamba tudo. Ele vai ter com a Jocelyn e temos um momento de suposto plot twist onde percebemos que ela o quer de volta na sua vida, pedindo-lhe para subir ao palco e apresenta-o como amor da sua vida aos fãs. E a série acaba.

Mas não funciona, porque é só nonsense. O que eu acho é que a série tenta inverter os papéis e mostrar a Jocelyn como a personagem manipuladora e o Tedros como uma vítima no final de tudo. Mas que sentido isso faz? Nenhum. Nada faz sentido. Nunca isto foi construído, em momento algum. Simplesmente sai out of nowhere.

É uma narrativa furada e cheia de buracos que tenta ser sustentada pela ideia que esta falta de uma boa história é propositada e quase que conceptual. Mas não é suposto eu enquanto espectador ter de inventar e preencher a quantidade de lacunas que The Idol apresenta. E isto apenas focando no arco principal, porque a quantidade de personagens que têm arcos sem sentido e inúteis para a história… A personagem da Jennie é ridiculamente desnecessária ela basicamente começa e acaba no mesmo ponto e não está ali a servir para nada.

Como é que alguém junta esta quantidade de gente talentosa e famosa e faz uma série destas? Ainda para mais quando tinha tanto potencial, a premissa é efetivamente interessante. Foi uma desilusão. Até ao episódio quatro ainda estava a achar mediano, mas este último só veio evidenciar todas as pontas soltas e costuras estranhas que foram feitas.

Mas se estão preparados para enfrentar estes problemas todos, vejam The Idol e tirem as vossas próprias conclusões, pelo menos vão apreciar uma estética exemplar.

The Idol
The Idol
Podre
Premiere: 04/06/2023 Finale: 02/07/2023
Temporada: 1
Distribuição:
2.5
  • Positivo
  • Cinematografia
  • Negativo
  • Narrativa
  • Direção
Escrito por:
Rodrigo Manhita
Sempre um pouco por todas as áreas desde que envolvam criatividade e histórias. Trabalho como editor de livros YA no mundo editorial, escrevo nas horas vagas e estou sempre a empreender. No mundo Geek encontram-me mais nas séries, nos filmes, na literatura e na cultura asiática, mas também no League of Legends de vez em quando.