Assim que saímos da nossa nave caída e em ruínas num qualquer planeta estranho, o apelo de The Mobius Machine prende-nos logo. Os cenários e o cuidado visual dos ambientes, numa mistura de 2D e 3D muito detalhado, são um bonito cartão de visita para este lugar do qual ainda nada sabemos. Somos um pequeno astronauta, equipado com uma arma bastante simples, mas que dispara em todas as direções, e isso é tudo o que conseguimos perceber ao começar. Tudo o resto é exploração… e tentar fugir dali.
Passam algumas horas de jogabilidade e, embora tenhamos já encontrado alguns inimigos variados, uns que flutuam, outros que correm ou se arrastam pelo chão, outros que se fixam às paredes rochosas, o mistério permanece. A narrativa desta nova aposta do Madruga Works não se apresenta assim tão facilmente perante o nosso olhar curioso.
É essa busca, por descobrir mais deste planeta, que nos leva a tentar, repetir e tentar outra vez ultrapassar certas áreas. Mas The Mobius Machine tem nisso tanto a seu favor como contra si. A dificuldade de alguns inimigos é desproporcional, sendo que há criaturas pequenas e mais simples que só com um toque nos tiram bastante percentagem de vida, levando a um reinício constante de algumas partes que não são assim tão interessantes. A arte de criar um metroidvania não é fácil, pois esta reside num equilíbrio quase perfeito (e em alguns clássicos do género realmente perfeito) entre os caminhos que nos estão bloqueados de início, os poderes, armas ou botões que vamos encontrando para os desbloquear, e a diversão que vamos tendo entre esse backtracking e o constante andar para trás e para a frente e muitas vezes perdidos, mas num perder que dá gosto porque nos vai levando a novas descobertas, itens e evoluções que de outra forma não teríamos encontrado.
É aqui que The Mobius Machine mais falha, pois passa-se muito tempo sem se encontrar algo novo (uma arma/um poder/um botão) que pelo menos diversifique um pouco a jogabilidade e compense essa fadiga, de perder e reiniciar do último checkpoint, com algo fresco e que nos entretenha até conseguirmos abrir a próxima porta. É que os cenários e criaturas, embora criativos e interessantes, não são assim tão variados. As boss fight pouco originais e sem grande exigência também não ajudam nisto, mesmo que mais para a frente se tornem um pouco mais arriscadas. O espaço entre encontrar algo novo, que nos deixe avançar, deveria ter sido simplesmente encurtado, pois cria um prolongar artificial da jogabilidade que irá afastar alguns jogadores.
Mas, mesmo assim, The Mobius Machine conseguiu prender-me, muito por querer desvendar o mistério que me levou até àquele planeta, e há realmente alguma compensação em continuar a jogar para descobrir mais deste mundo. O uso do 3D muito bem trabalhado nos cenários foi uma excelente aposta deste pequeno estúdio indie, pois elevou bastante a qualidade visual e conseguiu destacá-lo dos demais metroidvania que populam o mercado de videojogos atualmente. Deixarei, para quem jogar, todos os pormenores desta história, pois parece-me ser a melhor forma de a descobrir, mas posso adiantar-vos que o surgir de alguns inimigos bastante peculiares irá aguçar ainda mais a vontade de continuar esta aventura. Os próprios criadores do jogo admitiram alguma inspiração em clássicos como Alien ou The Thing e a homenagem, aqui, foi muito bem conseguida.
Ainda sobre a variedade, alguns cenários, como os subaquáticos, mudam muito a forma de jogar e tornam-se até mais desafiantes, o que agradará aos jogadores que procuram a dificuldade que já é bem conhecida nos metroidvania, mas não pensem que encontrarão aqui algo tão difícil (ou tão engenhoso) como num Metroid, Ori ou mesmo Hollow Knight. Isto, claro, poderá ser um ponto positivo para quem procurar aventurar-se no género sem encontrar grandes frustrações.
Mas para os mais corajosos, há ainda um modo retro, que pode ser escolhido no início da aventura, e que diz o seguinte: “O progresso de jogo será salvo apenas nas máquinas que permitem gravar. Se morreres, perdes todo o progresso desde a última vez em que gravaste”. Não testei este modo, mas acredito que acrescentará muito mais ao desafio.
A banda sonora, embora nunca se imponha, cria o ambiente perfeito de um misterioso sci-fi, através de sintetizadores que trazem uma vibe de outras décadas e de alguns filmes clássicos do género, ajudando a embalar a exploração com uma atmosfera muito própria.
Tecnicamente, nada a apontar. Joguei The Mobius Machine na Steam Deck e, mesmo tendo tido acesso antecipado a uma press build com a informação de que poderia encontrar alguns bugs ou imperfeições (1 mês antes do lançamento oficial), a verdade é que este indie metroidvania portou-se lindamente, sem quaisquer falhas técnicas, mostrando o empenho que houve em entregar um produto final bem polido.
O estúdio Madruga Works deixou os city builders de lado, como Planetbase e Dawn of Man, pelos quais ficou mais conhecido, para se aventurar num estilo de jogo diferente e tem aqui uma aposta forte, embora necessitasse mais do tal equilíbrio do género que já mencionei. No final, fica o desejo de que não fiquem por aqui e tragam novamente algo semelhante a The Mobius Machine, se pelo menos conseguirem percorrer de novo estes níveis e perceber onde é que aquele machado de escalada deveria ter logo aparecido… algumas horas antes de o termos encontrado.
The Mobius Machine chegará a 1 de Março ao PC, Xbox Series X|S e PS5.
Obrigado ao Madruga Works por ter enviado um código para análise.
Esta análise foi possível com o apoio da Madruga Works!
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