O remake de Until Dawn chega com promessas de visuais aprimorados e algumas mudanças na jogabilidade. No entanto, como muitos remakes, é levantada a questão: o que justifica o seu preço elevado e o retorno ao videojogo?
Embora à primeira vista o jogo possa dar a impressão de ser uma experiência passiva, Until Dawn revela-se mais dinâmico à medida que as escolhas do jogador afetam diretamente o destino das personagens. O enredo, cuidadosamente construído, mantém-nos envolvidos ao proporcionar uma série de decisões com consequências significativas.
O estúdio Ballistic Moon também fez algumas alterações na narrativa de Until Dawn, em comparação ao original. A base narrativa é a mesma, duas irmãs desaparecem após uma brincadeira entre amigos e, um ano depois, todos se reúnem na cabana onde o incidente aconteceu. O jogador vai controlar os vários elementos do grupo de amigos, interpretados por atores talentosos e alguns bastantes conhecidos. O grande objetivo de Until Dawn é chegar ao amanhecer com todos vivos.
O remake de Until Dawn destaca-se por apresentar um novo início e um novo final. A introdução agora oferece mais detalhes sobre os eventos que antecederam o desaparecimento das irmãs, permitindo que o jogador se conecte (ou não) ainda mais aos personagens. No entanto, o ponto alto para os fãs do jogo original está no desfecho do jogo. A nova versão traz um final diferente e até inclui uma cena pós-créditos, sugerindo claramente a possibilidade de uma sequela.
A constante vigilância sobre os diálogos e os eventos rápidos (quick time events) mantém a experiência estimulante, transformando o jogador num participante ativo, onde cada decisão pode resultar em desfechos trágicos ou inesperados.
Este novo Until Dawn oferece uma modernização visual que amplifica a conexão emocional com os personagens, graças a gráficos aprimorados que trazem maior realismo. A recriação dos ambientes e a iluminação mais detalhada elevam a atmosfera de suspense, imergindo-nos ainda mais na narrativa. A partir do uso do Unreal Engine 5, o jogo ganha texturas de alta qualidade, uma renderização superior da pele e uma paleta de cores mais rica. A neve deforma-se sob os pés dos personagens, e reflexos detalhados acrescentam uma camada de imersão ao ambiente gélido e isolado de Blackwood Pines. Estes detalhes transformam a experiência visual e fazem jus ao poder do PlayStation 5.
No entanto, esta fidelidade gráfica esbarra em algumas dificuldades técnicas. A performance do jogo sofre com quedas de frame rate, muitas vezes prejudicando a fluidez das cenas e a imersão que o jogo tenta construir. É possível observar a baixa resolução interna nas áreas de alto contraste, como cabelo e contornos. Inclusive, durante a minha análise, tive alguns crashes recorrentes, especialmente nas primeiras horas do jogo, o que afetou gravemente a experiência. Estes problemas de performance são uma deceção, considerando o foco em criar uma experiência cinematográfica envolvente. As flutuações na taxa de fotogramas, muitas vezes caindo abaixo dos 30 fps, comprometem a fluidez, principalmente em momentos cruciais da jogabilidade. Esta limitação é ainda mais frustrante quando comparada à versão original de 2015, que, em modo de compatibilidade, oferece uma experiência mais estável na mesma consola.
Uma das mudanças mais discutidas no remake é a mudança na perspetiva da câmara. Diferentemente da versão original de 2015, que utilizava câmaras fixas inspiradas em clássicos de terror, como Resident Evil, a versão de 2024 adota uma perspetiva sobre o ombro, semelhante a jogos como o remake de Silent Hill 2. Esta alteração visa dar mais controlo ao jogador e permitir uma exploração mais detalhada dos ambientes.
No entanto, esta mudança sacrifica a sensação de filme interativo que fez o jogo original destacar-se. O uso de câmaras fixas contribuía para a tensão e o suspense, enquanto a nova abordagem torna o jogo mais parecido com um título de sobrevivência convencional, sem combates. A sensação de estar a controlar personagens dentro de um filme de terror perde-se, o que dilui parte da experiência cinematográfica que era um ponto forte do jogo.
Além da mudança na câmara, o remake introduz outra decisão questionável: a remoção do botão que acelerava o movimento dos personagens. Na versão original, os jogadores podiam pressionar um botão para fazer os personagens andarem mais rápido, o que facilitava a exploração dos cenários. Agora, com a ausência desta função e com o movimento dos personagens a serem pesados e imprecisos, a jogabilidade torna-se frustrante, especialmente em momentos críticos em que a rapidez é essencial.
Esta lentidão também impacta outro elemento-chave do jogo: a recolha de totens. Estes objetos, que oferecem vislumbres do futuro dos personagens, foram reposicionados no remake, mas o processo de interação com eles foi alongado de forma desnecessária. Enquanto no original bastava virar o totem para ver a premonição, agora é preciso manipulá-lo lentamente, o que quebra o ritmo da exploração e adiciona uma camada de frustração desnecessária.
Uma das críticas mais significativas ao remake de Until Dawn é o seu preço. A versão de 2024 chega ao mercado com um valor muito mais alto do que a versão original, que pode ser jogada no PlayStation 5 por meio de retrocompatibilidade. Sem oferecer um caminho de upgrade para aqueles que já possuem o jogo de 2015, o remake parece mais um relançamento sem substância real. A falta de novas mecânicas relevantes, como o modo cooperativo presente em outros títulos da Supermassive Games, torna difícil justificar a compra, especialmente para quem já conhece o jogo original.
Until Dawn é uma interessante reinterpretação de um clássico, oferecendo uma experiência visualmente enriquecida, mas limitada por falhas técnicas que prejudicam a fluidez do jogo. Apesar disso, é uma recomendação válida para novos jogadores que nunca experimentaram o original, especialmente para aqueles que buscam uma experiência imersiva e baseada em escolhas. No entanto, para os que já conhecem a versão de 2015, a falta de melhorias substanciais no desempenho pode ser uma decepção, e também o seu preço elevado. Para fãs de terror e do original, pode ser mais sensato esperar por uma promoção antes de embarcar nesta nova (e não tão melhorada) viagem a Blackwood Pines.
Esta análise foi possível com o apoio da PlayStation Portugal!
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