Baseado numa série israelita do mesmo nome, Euphoria vê Levinson, (o escritor e realizador de 5 episódios da série), trazer à vida o mundo extremamente difícil e angustiante de adolescentes que tentam navegar num universo cada vez mais aberto a tudo o que não deveria ser. Da mesma forma que Sex Education é um sucesso no seu retrato humorístico da adolescência, Euphoria é genial no seu retrato, neste caso, mais sombrio.
Levinson mencionou em entrevistas que usou o seu próprio vício em drogas para trazer mais realismo à série, e à complexidade de emoções cruas e atormentadores que isto envolve. Sem dúvida, Lenvinson tem vários pontos que pretende destacar em Euforia, sejam eles sobre redes sociais, incerteza e ansiedade sexual, a vida suburbana na América contemporânea ou sobre a inutilidade dos pais na educação dos filhos. O retrato chocante destes elementos é assustador de se imaginar real, e a forma como aborda o uso de drogas, a pressão entre colegas e até mesmo predadores sexuais é difícil, mas extraordinário de se ver.
Há uma história assustadora, dolorosa e pessoal no centro de Euphoria, bem como uma performance assustadora e dolorosa por parte de Zendaya como Rue Bennett, uma adolescente de 17 anos viciada em drogas. De facto, Zendaya (para não falar do resto do elenco) é excepcional a cada passo, acrescentado uma leveza comovente aos momentos mais pesados e macabros. Um papel que define o início da sua carreira da melhor forma, sem dúvida.
Perdida no início da série, Rue encontra-se quando encontra uma amiga em Jules (Schafer), uma garota trans que é nova na escola e cujo passado a atira para um presente de encontros sexuais brutais e angustiantes. Juntas, elas encontram refúgio uma na outra e tentam entender como estando quebradas, se podem manter em pé, se se apoiarem uma na outra. Esqueçam porém o arco previsível de redenção de Rue ao longo da história. Envolta por uma cinematografia do outro mundo, em que cada frame parece saído de dentro da cabeça de alguém sob a influencia de uma droga diferente, ora onírica e fantasiosa, ora stressante e perturbadora, Euphoria é tudo menos o que se está à espera.
De muitas maneiras, esta série é o pior pesadelo da maioria dos pais tornado realidade. Com personagens bem escritas, cada uma com a sua história complexa e interessante, um diálogo cativante e acutilante, e performances extraordinárias por praticamente todos os actores, Euphoria que muitas vezes é criticada pela sua excentricidade e excessividade, pela sexualidade desnecessária e por falar de assuntos que deveriam ser tabu, é sem dúvida por todas estas razões uma das séries do ano e que merece não só o destaque mas toda a nossa atenção. Afinal de contas, há pesadelos que acontecem quando não estamos a dormir.