Killing Eve, o thriller de espionagem aclamado pela crítica, estrelado por Sandra Oh como a agente do MI5 Eve, e Jodie Comer como a assassina Villanelle, finalmente chega a uma conclusão. Após quatro temporadas de tensão e jogos de gato e rato entre as duas, a última temporada de Killing Eve parece reunir as personagens para um final fatal para a sua suposta história de amor.
A temporada como um todo fica abaixo do esperado quando comparada às temporadas anteriores. Não só em termos estéticos, visto que a maior parte da ação acontece em locais sombrios e nublados, o que não deixa de ser dececionante em contraste com os cenários vibrantes e chiques de Paris, Barcelona e outras cidades que apareceram nas temporadas passado, mas também em termos criativos. Talvez a escolha de limitar a variedade e a vibração dos locais seja deliberada de modo a refletir a jornada gradual de Villanelle e Eve para viver vidas civis estabelecidas. No entanto, não é a mesma coisa. Para uma série sobre uma assassina internacional cheia de glamour, as escolhas culminam em algo menos especial e único.
As performances do elenco são, como seria de esperar, excelentes, mas para além disso, e talvez o ponto mais positivo desta nova temporada, procuram aprofundar algumas personagens secundárias e conseguem-no de forma muito interessante. Carolyn Martens de Fiona Shaw e Constantin Vasiliev de Kim Bodnia trouxeram imensa profundidade e timing cómico impecável para Killing Eve desde a primeira temporada, mas nesta brilham de forma sombria.
Ainda assim, nem os melhores atores podem salvar a escrita aquém. Cada temporada de Killing Eve até agora teve um argumentista diferente, e é impossível não concordar que a primeira temporada de Phoebe Waller-Bridge é a mais interessante e ousada. É uma pena ver o mundo que construiu ter sido levado por caminhos menos capazes, com storylines absolutamente maltratadas e esquecidas. A que mais custa é a dos Doze e a forma como são insensatamente destruídos num fim insatisfatório, ainda mais tendo em conta a forma como foram engenhosamente construídos.
Muito mais se poderia escrever sobre a temporada como um todo, mas o que fica, depois de dezenas de episódios a acompanhar a relação entre presa e predadora, é sem dúvida o final. Este mesmo chocou o autor Luke Jennings, cuja trilogia Codename Villanelle inspirou a série, levando-o a escrever que “o final da quarta temporada foi uma reverência à convenção. Uma punição de Villanelle e Eve pelo caos sangrento e eroticamente impelido que causaram.”
A criadora de Killing Eve, Laura Neal, terá dito anteriormente ao jornal Decider que a cena final era “realmente importante” e significava o “renascimento” de Eve livre de Villanelle. “Nós realmente queríamos uma sensação de que ela se teria lavado de tudo o que aconteceu nas últimas quatro temporadas para poder começar de novo”, disse Neal, “sem ainda assim levar tudo o que aprendeu e tudo o que Villanelle lhe deu para uma nova vida.”
Neal acrescentou ainda que “aparecia certo para nós que Eve sobrevivesse e Villanelle morresse. No entanto, morre de uma maneira que não deixa de ser triunfante para ela, pois alcança algo que procurava alcançar desde o início da quarta temporada que é fazer algo de bom”.
Não deixando de perceber os dois lados da moeda, resta a minha opinião, que é a seguinte: embora o episódio final de Killing Eve em muitos aspetos pudesse ter sido pior, deixou muito a desejar. Em vez de se aproveitar dos elementos ousados pelos quais a série é conhecida e amada, quer sejam os locais de filmagem exóticos, a cinematografia espetacular, ou as mortes ousadas de Villanelle, o final é, na maior parte, medíocre. Não apenas o destino de Villanelle e Eve é insatisfatório, o episódio em geral é, literalmente, cinza, e desinteressante para uma série dinâmica. Existe, de facto, o aspeto redentor do relacionamento entre Eve e Villanelle, que dura uns belos 20 minutos, durante os quais os espectadores têm o raro prazer de ver Eve e Villanelle desfrutar de alguns momentos de paz como um casal. No entanto vem tarde e cai no lugar-comum dos finais infelizes para casais do mesmo sexo.
Em conclusão, a mediocridade do final parece uma traição à natureza ousada e sem remorsos da série e deixa um sabor amargo que acaba por estragar a refeição que até tinha começado muito bem.
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