O primeiro episódio é uma promessa comovente de tudo o que Night Sky teria para oferecer, podendo existir sozinho – na minha opinião devendo até – deixando-nos a querer mais, mas satisfeitos e melancólicos. No entanto, a partir desse momento a série é apenas uma desilusão constante de tudo o que poderia ter sido e nunca foi, e o que se segue é o caminho menos excitante e mais desnecessário que poderia ser.
Franklin (J.K. Simmons), um reformado carpinteiro, e Irene York (Sissy Spacek), uma antiga professora de inglês, vivem nos arredores da pequena cidade (fictícia) de Farnsworth. Quando a história começa, Irene está doente e Franklin cuida dela com todo o amor e carinho. Naquela noite, faz-lhe um simples pedido: quer “ver as estrelas”. Franklin, embora menos entusiasmado, concorda e ajuda Irene a sentar-se na sua cadeira de rodas, guiando-a para fora e levando-a, para nossa surpresa, para dentro de um pequeno barracão. Franklin ajuda-a depois a descer as escadas, leva-a por um túnel subterrâneo iluminado, e abre uma pesada porta de metal. De dentro uma luz, e quando damos por isso são transportados para uma sala com duas cadeiras, uma mesa e uma vista deslumbrante de um planeta sem nome. Não é surpresa para ninguém que eventualmente seja revelado que o par está a passar por luto e que, de facto, o uso de um dispositivo mágico para escapar da sua realidade terrena tem um segundo significado.
Cedo demais para o gosto de Irene, voltam para casa, e o resto do episódio começa a construir o resto do episódio. Somos introduzidos a um vizinho intrometido, um estranho misterioso, e ficamos a saber que Franklin e Irene terão perdido um filho décadas cedo demais. De facto, o episódio piloto funciona muito bem. Vemos o contraste entre a necessidade de Irene de seguir em frente, seja para explorar o estranho mundo novo ou para a próxima vida, e o desejo de Franklin de preservar o que eles têm e passar em segurança o máximo de tempo que lhes resta. Porém, o enredo rapidamente se desmorona para depois demoradamente nos confundir ao longo das sete horas que se seguem.
À medida que as perguntas se acumulam e as respostas são adiadas sem uma boa razão, fica claro que Night Sky não é realmente sobre um casal a lutar com o fim da sua vida, mas apenas um tedioso drama romântico. Os problemas começam a surgir assim que o segundo episódio corta para outra família inteiramente, esta composta por mãe e filha que vivem na Argentina. Stella (Julieta Zylberberg) e Toni (Rocio Hernández), vivem uma vida isolada no deserto sem qualquer explicação, o que resulta numa dinâmica confusa e atribulada. O público rapidamente descobre o porquê: há uma antiga igreja perto de sua casa que Stella protege e cuida, apesar de ninguém mais poder entrar. Embora este subenredo pudesse ser interessante por si só, os dois juntos não se complementam ou acrescentam, tornando a experiência do espectador apenas frustrante.
Spacek e Simmons, ambos vencedores do Oscar, ajudam a elevar a série nos seus momentos mais aborrecidos, encontrando textura e nuances nas cenas e construindo arcos sobre a sua própria humanidade. Mas nem dois atores excecionais conseguem salvar um enredo que não oferece nada. É impossível entretermo-nos por muito tempo apenas com as suas performances, sem que nada realmente importante aconteça.
Night Sky é construído em torno de uma ideia decente para um filme de 90 minutos, que se estende por oito horas. Diria mais ainda, nem 90 minutos seriam necessários. Para quem não acredita, a própria Sissy Spacek, acompanhada por David Strathairn, estrela o videoclipe de “Oh Baby” dos LCD Soundsystem, sobre um casal que vive no meio do nada e que constrói uma máquina de teletransporte improvisada na sua garagem. Com o tempo, o seu segredo é descoberto, a violência explode e o casal parte rumo ao desconhecido, talvez para sempre. Filmado em dois dias, o vídeo de seis minutos, dirigido por Rian Johnson e editado no seu iMac, é uma narrativa impressionante e comovente que consegue alcançar melhor tudo o que Night Sky sonhou alguma vez ser.
Esta análise foi possível com o apoio da Amazon Prime Video!
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