Imaginem um detetive tipo Sherlock. Agora retirem-lhe o chapéu e a lupa, e adicionem cerca de 50 kg de músculo, 20 cm de altura e uma pouca disposição para chatices. Apresento-vos Jack Reacher, o herói literário, agora adaptado pela Prime Video, após duas passagens pelo grande ecrã, da mesma forma que Tom Clancy’s Jack Ryan ressuscitou no serviço.
A série produzida por Nick Santora, conhecido pelo seu trabalho em Scorpion, traz-nos uma nova adaptação do famoso personagem da literatura de Lee Child, focada no primeiro livro da saga, Dinheiro Sujo (ou Killing Floor). Nesta nova série televisiva, Alan Ritchson roubou o lugar de Tom Cruise, e interpreta Reacher, um ex-militar com um grande poder de dedução que se encontra numa pequena vila, Margrave, no estado da Georgia. Reacher anda em busca do local da morte de um ídolo musical, quando para sua surpresa, se senta para comer a ‘melhor tarte de pêssego de Georgia e arredores’, é confrontado por polícias armados que o acusam de homicídio. Já na cadeia, Reacher conhece Roscoe, interpretada por Willa Fitzgerald, uma polícia que não acredita na sua culpabilidade e Finlay (Malcolm Goodwin), o detetive-chefe da esquadra. Ambos parecem ser os únicos em quem Reacher pode confiar para limpar o nome e desvendar a causa destes homicídios. É assim que começa esta complexa narrativa policial, em que todos na pequena vila parecem estar implicados, e que as pequenas pistas desvendadas e ação nos fazem continuar para o próximo episódio.
Reacher, impulsivo, meio rebelde e determinado a fazer justiça de qualquer forma que encontrar, joga muito bem com os companheiros, particularmente com Finlay, que é resmungão e gosta de seguir ordens. Os diálogos entre os dois dão-nos dos momentos mais divertidos da série. Todos gostamos de ver duas personalidades tão fortes chocarem, sendo a evolução da relação entre os dois um dos pontos mais fortes da adaptação. Esta relação não seria possível, no entanto, sem Roscoe, uma mulher determinada, que não se deixa ficar em baixo, e que desde os primeiros instantes acredita e confia no nosso herói. Não obstante, e como era de esperar, há uma tentativa de estabelecer um romance entre Roscoe e Reacher desde muito cedo, que acaba por não ser totalmente credível, uma vez que muito pouca química sexual ou romântica transparece para este lado do ecrã, e o ambiente entre os dois é o mais genuíno quando em regime de buddy-cop.
Para além de sermos entretidos pelo diálogo, também as cenas de ação se mostram cativantes na sua maioria, ainda que padeçam, por vezes, de demasiados cortes e edição que cansam os olhos. No entanto, Ritchson vende, com o seu físico, a brutalidade do personagem e as sequencias bem coreografadas ilustram a força que Reacher é capaz de exercer nos inimigos
Apesar de todo o elenco ter feito um trabalho notável, há que dar especial menção a Maria Sten, que interpreta Neagley, uma amiga e colega do passado de Reacher, e que rouba todas as cenas em que está presente. A carismática Neagley mostra ser a única pessoa que realmente conhece Reacher e muito da sua história ficou por revelar. Espero assim ver mais de Sten em temporadas futuras, para podermos desvendar mais sobre o seu passado e o de Reacher.
Em relação ao passado de Reacher, vamos aprendendo aos poucos as camadas por detrás do armário violento. Santora decidiu também introduzir pequenos flashbacks em cada episódio, que nunca são mais que 2 minutos, e todos juntos contam um breve incidente quando Reacher e o irmão eram crianças. Estes segmentos pouco revelam de novo acerca do protagonista, parecendo não só desnecessários, como também, elementos de distração que quebram o ritmo do episódio.
Reacher é vítima de alguns clichés policiais, que nos tempos de hoje nos parecem improváveis. Como deduções rebuscadas, o clássico abrir do ficheiro arquivado de há vinte anos e descobrir nova evidência, e até mesmo o ‘enhance’ com zooms macroscópicos, que revelam imediatamente os culpados, absortos de qualquer suspeita até ao momento.
A nova série da Prime sofre também pela falta de algo realmente inovador. Ao longo dos oito episódios, ficamos sempre com o sentimento que já vimos algo similar antes, e que nada é realmente ousado para o género, correndo assim o risco de se perder no tsunami de conteúdo dos dias de hoje. As reviravoltas finais mostram-se previsíveis, deixando o visualizador um passo à frente dos personagens, o que acaba por arrastar o enredo para conclusões esperadas.
Apesar de não ser surpreendente ou espetacular, é uma boa temporada de televisão para todos os que gostam de policiais e crime. Os personagens são suficientes para carregar a história, mesmo quando desacelera ou se torna previsível. Para os que ficaram convencidos ou que gostariam de julgar por si mesmos, a série estreia na Prime Video dia 4 deste mês.
Esta análise foi possível com o apoio da Amazon Prime Video!
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