Durante anos, os produtores interessados em terror adaptaram o formato da TV a seu favor. Uma série tem, por exemplo, mais tempo para criar enredos assustadores, podendo deixar a tensão crescer por mais tempo, o que só se traduzirá numa experiência mais assustadora. De todos os programas de TV assustadores que existem, quais são os que valem a pena?
Todo mundo conhece o personagem Hannibal Lecter de Silence of the Lambs, mas há muito mais – quatro romances, na verdade – na história deste canibal. A questão era: como adaptar este personagem, excepcionalmente aterrorizante e fascinante? O criador de Hannibal, Bryan Fuller, responde a esta pergunta focando na psicologia de Hannibal, e a escolha provou ser profundamente fértil. De facto, Fuller virou a ideia de Lecter de cabeça para baixo ao elaborar a história em torno de seu relacionamento com o amigo Will Graham, interpretado por Hugh Dancy. O resultado é uma série tão sangrenta e crua, quanto elegante. Mads Mikkelsen parece que nasceu para interpretar vilões, oferecendo um desempenho verdadeiramente notável, superado apenas pela capacidade de Dancy de contrabalançá-lo.
Parte adaptação de romance vitoriano, parte thriller psicológico e parte história de terror, Penny Dreadful é uma série para verdadeiros nerds de terror. É uma re-imaginação dedicada de alguns dos maiores monstros do mundo literário – Dorian Gray, Frankenstein e o seu monstro, Drácula, entre outros – e como eles causariam estragos na Inglaterra vitoriana se fossem todos reais, se conhecessem e vivessem na mesma linha do tempo. O criador John Logan é inteligente e respeita os personagens clássicos que traz à vida, mas também é comprovadamente dedicado a criar uma atmosfera constantemente terrível e imprevisível. Juntamente com performances de estrelas de Josh Hartnett, Rory Kinnear e Eva Green, Penny Dreadful, consolida-se como um dos programas de TV assustadores mais originais da história recente.
O lançamento de Stranger Things durante o verão de 2016 foi sem dúvida um dos maiores momentos da cultura pop do ano. No papel, a história parece infantil: um grupo de crianças nos anos 80 solta um monstro no mundo humano enquanto joga um jogo de tabuleiro. Sim, o monstro é nojento e pode dar alguns pesadelos, mas o principal motivo da série funcionar tão bem é a sua capacidade de atingir uma atmosfera perigosa e emocional, para além das relações entre as personagens. Este tom sombrio e arrepiante é conseguido pela época, mas também pela qualidade dos atores, incluindo Winona Ryder e David Harbor. As verdadeiras estrelas, porém, são as crianças, que mantêm esse tom e, sem dúvida, continuarão a carregar a série enquanto o hype continuar.
Baseado na trilogia homónima de Guillermo del Toro e Chuck Hogan, e com um piloto dirigido pelo mestre da ficção científica e vencedor do Oscar, The Strain gira em torno do Dr. Goodweather, um médico renomeado na cidade de Nova York, que é encarregue de investigar um misterioso acidente de avião. Qual o mistério? No momento em que o avião pousou, todos os passageiros e tripulação estavam mortos. Goodweather e a sua equipe descobrem rapidamente que as mortes foram o resultado de um vírus de disseminação rápida que imita o vampirismo e ameaça o planeta inteiro. A série é engraçada, sangrenta e consegue reinventar um visual totalmente original para vampiros, que o torna emocionante.
Esta era uma escolha óbvia. O próprio nome atira-nos para o género do horror, e embora as últimas temporadas não tenham sido as melhores, as primeiras são excelentes. Cada temporada é concebida como uma minissérie independente, com as suas próprias personagens e cenários, e um enredo com “começo, meio e fim”, embora aos poucos as temporadas se comecem a entrelaçar, o que é realmente interessante de se assistir. A minha favorita? Murder House. Talvez pelo facto de ter sido a primeira e as expectativas estivessem baixas, a história que se desenrola em torno de uma família que se muda para uma casa assombrada pelos seus ex-ocupantes falecidos, surpreendeu-me como não esperava, sendo realmente assustadora e criando aquele bichinho saudável de querer ver mais e mais.
Embora seja extremamente estilo anos 90, por ter sido transmitida na HBO foi uma das poucas antologias da altura com total liberdade de censura. Como resultado, a série incluí conteúdo que não tinha aparecido na maioria das séries de televisão até então, como violência gráfica, palavrões, atividade sexual e nudez. Para além disto, a série tem alguns dos enredos mais estranhos e caricatos de uma de antologia terror. Vamos resumir um episódio e ver se ficam com vontade de ver mais: uma mulher convence-se de que o espantalho assombrados é seu amante e começa a envolver-se romanticamente com ele apenas para descobrir que a verdade é ainda mais perturbadora.
Também não dormiram o mês inteiro de outubro de 2018? Se dormiram, não devem ter visto The Haunting of Hill House. Baseada no romance de Shirley Jackson com o mesmo nome, a série gira em torno de um grupo de irmãos que cresceram naquela que se tornaria a casa mal-assombrada mais famosa do país. Elizabeth Reaser e Michiel Huisman lideram o elenco como as versões adultas dos irmãos, que vos farão questionar tudo o que pensam que sabiam sobre fantasmas, deixando para sempre aquele semente do medo de entrar numa casa velha. A segunda temporada, com um enredo e personagens diferentes, intitulada The Haunting of Bly Manor, estreou este mês na Netflix e mal podemos esperar para ver o que lá vem.
Esta antologia da Syfy cobre tudo desde uma criatura feita de dentes até uma porta de porão escondida que revela o pior dos pesadelos de qualquer pessoa. Os enredos da série são baseados em lendas populares de terror que foram copiadas e coladas na Internet, o que, honestamente, só torna a coisa ainda mais creepy. A primeira temporada revolve à volta de um psicólogo infantil que retorna à sua cidade natal para determinar se o desaparecimento do irmão está de alguma forma relacionado a uma série de incidentes semelhantes a uma série bizarra de televisão infantil que foi ao ar ao mesmo tempo. As temporadas que se seguem ficam cada vez mais esquisitas e perturbadores. Excelente para quem está à procura de cicatrizes psicológicas e emocionais para o resto da vida.
Black Mirror é assustador a outro nível. Vemos um episódio e parece que o futuro distópico está tão perto de acontecer que por vezes ficamos com medo só de desbloquear o telemóvel. Baseando-se sempre nas consequências do avanço descontrolado da tecnologia que podem vir a ter na nossa sociedade, existem episódios que são absolutamente geniais e aterrorizantes. Cada episódio sendo uma história em si mesma, Black Mirror tem-nos oferecido ao longo dos anos vários episódios assustadores de alta qualidade, como “White Bear” (uma mulher é submetida diariamente ao ridículo pelo público num “parque de justiça”), “Playtest” (um americano que concorda em testar um novo videojogo de realidade num local misterioso na Inglaterra), “Hated in the Nation” (abelhas robóticas) e “Metalhead” (cães robóticos). Sem dúvida vale a pena ver para pensar e tremer.
O timing realmente não estava do lado de Invasion. A série de ficção científica/terror tinha uma premissa incrível: depois de um furacão pulverizar uma pequena comunidade da Florida, pequenos parasitas invadem o maior número possível de habitantes da cidade. No entanto, um mês antes da data de estreia de Invasion, o furacão Katrina atacou os EUA, e várias tentativas de alterar repentinamente o marketing do programa resultaram em avaliações fracas e no seu cancelamento após uma temporada. Ainda assim, a primeira temporada de Invasion conta uma história sombria, chocante e cheia de momentos de tensão palpável.
Por isso, já sabem, durante este mês de Outubro, quando estiverem à procura de algo para ver que se encaixe nesta época mais fantasmagórica, enrolem-se por detrás de um cobertor para e dêem uma oportunidade a uma destas 10 séries.
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