The Politician, tal como o nome indica, retrata a construção de um jovem adolescente e a sua moldagem para ser aquele estereótipo que nos vem à cabeça quando nos perguntam para caracterizar um político. Falso. Corrupto. Que pensa apenas em si mesmo. Que engana e mente para alcançar os seus objectivos. E quais são? Apenas um: poder. Na minha opinião, esta série é apenas tolerável se for vista como uma sátira à construção dos ”políticos” do dia de hoje. A própria montagem de abertura atira-nos para esta ideia. Esta noção de que há um molde de “perfeição” a seguir. Olhando para a história dos presidentes americanos, a grande maioria parece ser constituída por homens brancos de famílias influentes. E é este mesmo tipo de candidato que se tenta construir ao longo da série.
Cada temporada parece abordar uma campanha diferente liderada pelo personagem principal: Payton Hobart (Ben Platt). Enquanto na primeira temporada, ele concorre a presidente do corpo estudantil, nesta temporada a corrida é a uma posição mais importante, e mais está em jogo. No entanto, a segunda temporada parece repetir praticamente os mesmos pontos e o mesmo arco narrativo, pois, mais uma vez, Payton é forçado a encontrar o seu eu verdadeiro e decidir o que realmente importa.
O que é mais estranho em The Politician é que a série parece não ter qualquer interesse na política actual. Enquanto a premissa é sem dúvida promissora, sendo perfeita para um estudo de personagens e tendo o ambiente perfeito para fazer uma crítica ao ambiente político-social que se vive, mas todas estas oportunidades são desperdiçadas. Enquanto que na primeira temporada, a história se passa num secundário e o sarcasmo/absurdo das situações assente melhor, a passagem para o mundo adulto não acompanha com a necessária seriedade; e ficamos com adolescentes a tentar governar-se.
Payton é sempre retratado mais como a projecção de um político do que como uma pessoa real. É irritante e desprezível, e nunca nos é explicado a dedicação que os colegas lhe têm apesar disto. Será apenas porque no papel ele é a melhor opção para candidato? Não faz sentido que a maioria das pessoas que o rodeiam, as quais parecem ser a sua bússola mais ou menos moral, o continuem a apoiar incondicionalmente em vez de encontrar alguém melhor. Seria mais interessante explorar esta natureza corrupta da personagem e talvez criar laços de chantagem e obrigação entre os companheiros de campanha, ou pelo menos é essa a minha opinião. Em vez disso, o drama criado é óbvio e cliché, e a única parte mais interessante são os poucos minutos de histórias secundárias que se vão criando com o resto do elenco.
Na sua totalidade, a mensagem da série é genérica: a política é corrupta, e aqueles que não são corruptos poucas chances têm de chegar a algum lado. Os episódios andam sempre nesta corda bamba entre pisar a linha do moralmente aceitável ou não. Payton muda o seu discurso consoante os eleitores, o que parece ser um espelho do que vemos nas notícias todos os dias: os políticos mudam de opiniões consoante lhes dá mais ou menos votos, mas a verdade é que não é bem assim. A maioria dos políticos têm convicções (melhores ou piores) bem fortes. Payton parece no fundo ter um conjunto de ideias e políticas em que acredita, mas estas vão-se perdendo na necessidade de se ganhar a eleição – talvez uma crítica à ideia de que o que importa antes de tudo é ganhar o cargo, porque só estando no cargo se faz a diferença, e parece ser essa a verdadeira doença de Payton. Ele quer fazer a diferença, mas precisa de poder primeiro, e pelo caminho vai-se perdendo.
No tempo que decorre, em que a juventude é constantemente criticada por não ser activa o suficiente na política do seu país, criticada por não ir votar e ser superficial, seria muito mais interessante explorar a ideia de um corpo juvenil com carácter e convicções, que tenta lutar contra o status quo. Mas talvez isso seja menos realista que um megalómano que finge ser “vegan” para ganhar votos.
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