Baseada no romance de 2014, “You Should Have Known” de Jean Hanff Korelitz, “The Undoing” segue a vida de Grace Fraser, uma psicóloga clínica especializada em aconselhamento matrimonial, que é casada com Jonathan Fraser, um oncologista infantil muito conceituado. À primeira vista, Grace e Jonathan têm o casamento perfeito e uma vida privilegiada.
Tal como a última série de TV de Kidman, o aclamado “Big Little Lies”, igualmente escrito por David E Kelley, “The Undoing” também começa com uma morte, mais precisamente a morte de Elena Alves, para o qual rapidamente é sugerido como principal suspeito Jonathan. Este é um caso completamente viciante para os media, uma vez que se trata de um crime envolvendo as camadas sociais mais elitistas da cidade, explorando o facto de que a vítima, mãe de uma criança que anda na mesma escola de elite do filho de Grace, contrasta com as outras mães por ser latina e pobre. Quando se voltam para o principal suspeito (Grant), certificam-se de destacar que ele não é apenas um oncologista infantil encantador, mas um homem branco e obscenamente rico. Embora tanto ele como Grace tenham alguma ligação com a vítima, a suspeita entre eles e outras personagens que vão aparecendo vai mudando ao longo dos seis episódios, o que significa que há voltas e reviravoltas suficientes (embora algumas não muito surpreendente) para manter o público viciado.
Funcionando como um thriller, “The Undoing” acaba também por lidar com temas como relacionamentos, casamento, manipulação e privilégio, sendo que a pergunta principal nunca deixa e ser: será que se pode realmente conhecer alguém? Sendo um programa de David E Kelley, não pode faltar um emocionante drama judicial, algo em que ele é perito e que mais uma vez consegue alcançar de forma exímia.
Do elenco impressionante, o destaque é Grant, que apresenta uma atuação complexa de um tipo de personagem nunca protagonizada por ele, afastando-se do idiota inglês apaixonado pelo qual ele é mais conhecido. Para além dele, Kidman é confiável como uma mulher que tenta lidar com segredos que estão sendo revelados enquanto a sua família se desintegra.
“The Undoing” falha na sua tentativa de comentar sobre privilégios e injustiças, rapidamente caindo nos próprios estereótipos que pretende criticar, abordando a raça e classe de forma completamente errada, mostrando as únicas pessoas de cor como vítimas ou suspeitas. Igualmente frustrante é o desperdício das seis horas de drama em não aprofundar os personagens, acabando apenas por repetir pontos da trama e arrastar cenas de forma desnecessária. Para além disso, a série é incrivelmente frustrante com a sua falta de vontade de construir um mundo além da história policial. Enquanto “Big Little Lies” consegue sair do mistério central para dar aos personagens vidas internas e externas próprias, o mesmo não acontece “The Undoing”.
Em última análise, temos uma série que nos consegue envolver pelas revelações inesperadas que vão sendo feitas a cada episódio, mas que fora disso se apresenta como algo facilmente esquecível. Para além disso, se conseguirmos deixar de lado um final dececionante, a série como um todo é interessante de assistir, nem que seja apenas pelas performances de Grant e Kidman que, mais uma vez, provam o seu talento fora do grande ecrã.
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