Depois de dois longos anos, Upload finalmente retorna com uma segunda temporada. Com avanços técnicos mais ridículos e aterrorizantes e uma exploração mais profunda do mundo, a segunda temporada desta série comédia romântica de ficção científica é um pouco curta demais, mas ainda assim doce.
Apesar de ser uma espécie de triângulo amoroso retorcido, a série nunca se esquivou de apontar e rir dos extremos que a tecnologia pode levar. A primeira temporada introduziu o conceito principal de Upload, em que alguém pode literalmente fazer o upload da sua mente para um servidor depois de morrer, passando a viver eterna embora digitalmente. Nathan Brown, um programador genial, sofre um misterioso acidente de viação e é enviado para um desses servidores, ou “vidas depois da morte”, chamado Lake View, onde conhece Nora, uma das funcionárias responsável pelo “atendimento ao cliente”. Os dois desenvolvem sentimentos um pelo outro, apesar do facto de Nathan tecnicamente estar morto e viver apenas como um “avatar” e de ainda estar junto com a sua namorada viva, Ingrid.
A segunda temporada retoma exatamente onde a última nos deixou e aprofunda mais a história, lançando uma luz mais dura sobre as ameaças da Big Tech e os males do capitalismo. A abertura da segunda temporada mostra Nora como parte de um grupo ativistas anti-tecnologia conhecido como Ludds, que se recusa a envolver no mundo perigoso da tecnologia, mas que não deixa de ter as suas próprias falhas. No entanto, é a introdução deste grupo que finalmente nos dá um contraste tão necessário ao resto da sociedade. Os novos avanços tecnológicos introduzidos são ao mesmo tempo hilariantes e material novo para pesadelos pessoais. Desde a ideia de poder ler a mente de alguém em tempo real, até uma empresa que possui os nossos sonhos mais loucos como propriedade intelectual.
Upload procura constantemente lembrar-nos que as possibilidades são terrivelmente infinitas quando se trata do quão longe a tecnologia pode ir para gerar lucro. Afinal de contas, o futuro dos nossos mundos virtuais será moldado não pelo que é possível, mas pelo que é lucrativo. Upload consegue demonstrar isso de forma engraçada e, ainda assim, consciente.
Reforçando os comentários sobre privacidade, política e desequilíbrio socioeconómico, a nova temporada de Upload não deixa, ainda assim, de ser tão espirituosa quanto a primeira. A parte dececionante é passarmos mais tempo com Nathan e Nora separados do que com eles juntos. E, sendo o coração da série, a química palpável entre os dois, isto torna-se um pequeno problema. No entanto, não só desta relação é feita a série. Não nos podemos esquecer de todo o mistério à volta da morte de Nathan, ou todas as outras personagens secundárias que alegram o ecrã. Uma ótima surpresa, por exemplo, foi a expansão do papel da colega de trabalho de Nora, Aleesha (Zainab Johnson). De uma maneira emocionante vem adicionar um conflito intrigante ao dia-a-dia dos nossos protagonistas. As suas cenas com o ex-cabo do exército e morador de Lake View, Luke (Kevin Bigley), são tão engraçadas quanto antes, e acrescentam um valor cómico à série que a eleva.
O que tornou Upload entusiasmante em 2020 ainda é verdade em 2022. O elenco é adorável e o seu futuro plausível nunca deixa de divertir e de nos questionar. A introdução de um programa beta em Lakeview que consiste na criação de bebés digitais para os seus residentes vem adicionar uma nova camada de comédia e drama única. Os bebés são terrivelmente feios, e “criá-los” é um pesadelo emocional. No entanto, eles são populares, e Ingrid faz de tudo até conseguir o dela. E, de facto, enquanto o destaque da última temporada foi facilmente a relação entre Nathan e Nora, nesta temporada, a maníaca e obsessiva Ingrid ganha o troféu de MVP (most valuable player), não só pela performance encantadora de Allegra Edwards, mas pelo quão longe os argumentistas decidiram levar a sua personagem nesta temporada.
Sem dúvida, o maior problema desta temporada é que parece que quando finalmente aquecemos o motor e estamos prontos para arrancar, acaba a estrada. Os sete episódios não são suficientes para enfrentar o mistério essencial em questão e a temporada parece mais um interlúdio do que uma verdadeira temporada completa. De facto, a série atinge o literal clímax no final do episódio final, deixando-nos mais uma vez noutro cliffhanger que nos faz ficar ansiosos por uma terceira temporada. E que seja preferencialmente mais longa e disposta a aprofundar o mundo da conspiração com o devido tempo e atenção. Embora esteja longe de ser perfeita, a nova temporada de Upload começa a juntar todas as peças necessárias para uma história extraordinária, fica a faltar-lhe apenas tempo.
Com comparações imediatas a séries como The Good Place, aquela outra comédia de vida após a morte, e à notoriamente sombria série britânica de ficção científica, Black Mirror, que igualmente procura extrapolar os dilemas éticos e sociais da tecnologia de uma maneira um pouco mais dramática, Upload parece uma combinação dos elementos cómicos e narrativos de uma e dos elementos tecnológicos e sérios da outra. No entanto, não chega, ainda, ao nível de nenhuma. No fundo, Upload não transparece como tão urgente ou existencial quanto estes, embora explorem questões semelhantes: O que há do outro lado da morte? Quem é o dono de si mesmo? Quais sãos os limites da moral e da tecnologia? Isto talvez aconteça porque Upload não parece preocupado em resolver esses dilemas. Ao contrário dos outros dois, é mais leve, focando-se mais na história simples das personagens do que na crítica que quer passar, o que o torna uma boa alternativa quando o que procuramos é simplesmente relaxar e desfrutar de algo um pouco esquisito.
Esta análise foi possível com o apoio da Amazon Prime Video!
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