Marvel Snap pode ser um nome que pouco ou nada diz a grande parte do público a que se destina. Talvez dentro de algumas semanas o caso mude de figura, com o lançamento global deste título já dia 18 de outubro, mas arrisco dizer, sem grandes medos, que este é muito provavelmente, um dos jogos mais desejados dos últimos meses, não só por fãs da Marvel como fãs de jogos de cartas.
Reduzir isto a apenas um jogo de cartas talvez seja injusto, ele é bem mais que isso! Se não acreditam, talvez ajude saberem que Ben Brode é o criador deste novo título dentro do universo Marvel. E quem é Ben Brode? Durante 15 anos, trabalhou em títulos como Warcraft III, World of Warcraft, StarCraft II e no jogo de cartas colecionáveis de World of Warcraft. Eventualmente esta versão física foi descontinuada, mas como já bem sabemos, nada se perde, tudo se transforma. Surge assim a oportunidade de assumir a liderança na criação daquilo que hoje conhecemos como Hearthstone. Mais tarde, ele acaba por sair e trazer consigo algum do talento da Blizzard e cria o seu próprio estúdio, o Second Dinner, que se estreia assim com Marvel Snap.
Se estão a pensar que este é um jogo complexo que vos vai consumir durante horas, têm alguma razão até certo ponto. A premissa é bastante simples: cada baralho pode ter até 12 cartas, a partida começa, por defeito, com três cartas na mão e cada carta tem o seu custo em energia e o seu poder. Durante seis rondas, passamos de ter um ponto de energia a seis, e vamos ter de conjugar o melhor possível estes pontos com as nossas cartas para as colocar no tabuleiro. As cartas são jogadas em três zonas distintas, ganha o jogador que tiver conseguido acumular mais pontos em, pelo menos, duas dessas zonas. No final, o jogador vitorioso acumula pontos para evoluir cartas e cubos, que são usados para calcular o nosso rank e assim garantir que somos colocados contra jogadores do mesmo patamar. Se nos sentirmos confiantes, podemos apostar e duplicar os cubos, mas se perdermos, também vamos perder cubos a dobrar. Pior é se o adversário tiver também apostado os seus cubos. Tudo isto decorre no máximo em três minutos, num estilo de jogo bem rápido e intenso. Algo que contrasta bem com o ritmo habitual em jogos do género.
Mas não seria um jogo Marvel se não tivesse super-heróis e, mais importante ainda, poderes. Cada carta é um herói, com um poder específico que pode assumir variadas formas, mas que tem sempre alguma sinergia com as outras cartas do nosso baralho ou até com as cartas do adversário. Podemos dar mais poder às nossas outras cartas em jogo, impedir que as cartas numa certa localização sejam destruídas, adicionar pontos a localizações adjacentes, bloquear poderes do adversário, as hipóteses são mais que muitas. Os baralhos em si são totalmente construídos pelo jogador com as cartas que se ganha enquanto joga. Inicialmente aquilo que se pode fazer é o suficiente para nos ambientarmos ao tipo de jogo que é Marvel Snap, porque não temos apenas de ter em atenção aquilo que os adversários metem em jogo. É também necessário conseguir lidar da melhor forma com as condições em que o jogo nos coloca, porque cada localização tem condicionantes próprios, que são sempre diferentes em cada partida.
Existem mais de 60 localizações, onde a seleção das que são usadas vai rodando consoante a temporada e alguns acontecimentos paralelos da Marvel, e há também uma localização em destaque que tem mais probabilidade de sair, mas o jogador é sempre avisado desse destaque a priori, daí que se pode preparar de antemão. O tipo de condições que vamos encontrar pode variar entre localizações onde não é permitido o uso de poderes que se repetem em cada ronda, ou poderes que só existem quando a carta é jogada, ou numa determinada ronda o baralho volta a ser baralhado, ou até podem não permitir jogar cartas de todo numa determinada localização. As hipóteses são muitas, mas também há imensas possibilidades de dar a volta a tudo.
É esta a verdadeira magia de Marvel Snap, criar baralhos que têm combinações que vão arruinar por completo as hipóteses do adversário assim como conseguir dar a volta às limitações, ou aproveitar as ajudas, que o próprio jogo nos atira em cada partida. Podemos estar a ganhar um jogo durante cinco rondas, mas na sexta, e última, ronda alguma jogada apanha-nos na curva e nem uma localização ganhamos.
Mas sendo este um jogo focado no mercado portátil, nomeadamente em smartphones e tablets Android e iOS, há sempre aquela preocupação em perceber o quão necessário é abrir a carteira para conseguir sequer fazer frente a adversários. Ainda que não o tenha mencionado, acredito que na versão PC os moldes sejam idênticos, mas a fama que um jogo mobile tem nesta vertente, inclusive em outros jogos com o carimbo Marvel, não é a melhor, daí a preocupação emergente em falar disto. Mas tenho de dizer que, até agora, essa necessidade não existiu, nem sequer senti que me foi forçada pelo jogo em si ou pela própria comunicação do mesmo.
As 150 cartas oficialmente confirmadas que, por enquanto, existem no jogo são todas ganhas ao subir o nosso nível e conseguimos subir de nível quando ganhamos pontos ao evoluir cartas. Existem ainda mais cartas, mas como ainda não foram descobertas ou disponibilizadas, 150 é o número com o qual é certo que podemos contar. Contudo, as evoluções de cada carta são exclusivamente visuais, não há qualquer vantagem para a carta em si. Inicialmente, evoluímos a carta para que a personagem “quebre” com a barreira visual da carta em si, depois assume um formato 3D, e por aí adiante. Cada evolução dá um certo número de pontos que nos vai fazer subir o nível e dar acesso a novas cartas ou boosters, necessários para desbloquear a evolução das cartas, ou créditos, para pagar essa evolução.
Além disso, existem ainda várias artes diferentes para cada carta. Uma pode parecer a capa de uma qualquer banda desenhada, outra parece saída diretamente das páginas em quadradinhos, outras em pixel, entre outros. E cada uma delas tem de ser igualmente evoluída. Isto pode parecer mau, mas até ajuda o jogador a ter mais hipóteses de subir de nível (logo a obter mais cartas), já que quanto mais evoluída está uma carta, maior o custo para a continuar a evoluir. Havendo mais cartas para evoluir, como o custo é mais reduzido, mais rapidamente subimos.
A forma que o jogo acaba por lucrar está bastante preso a cosméticos, tanto no percurso gratuito como na loja, como também pelo famoso season pass, que todos os jogos agora acabam por ter. Novas variações de cartas, imagens de perfil, boosters, créditos e gold (a moeda usada para comprar diretamente cosméticos), é tudo o que há para encontrar se decidirem atirar uns trocos a Marvel Snap.
Tudo isto é encapsulado numa apresentação cuidada e digna de fazer parte do universo de banda desenhada criada pela Marvel. Mesmo a animação durante cada partida funciona a favor do jogador, já que é bastante fácil identificar o que cada carta pode fazer só pela animação que a mesma tem ao ser jogada. Algumas nem tanto, já que também se torna complicado conseguir recriar visualmente poderes mais abstratos ou cartas que estão lá apenas a existir. Nesses casos, como em todos os outros, o áudio faz questão de ajudar e continua a elevar a experiência que se tem neste jogo.
Muito pode vir a mudar daqui para a frente, tanto a nível de jogo como de conteúdo, mas só o tempo o dirá. Mas se continuar a seguir estes moldes, será rapidamente um jogo incontornável não só amantes da Marvel e de jogos de cartas, mas para todos aqueles que queiram algo que podem entrar, jogar um par de jogos e continuar com o seu dia.
Redes Sociais