Overwatch já teve um percurso considerável desde o seu lançamento. Em 2016, quando a Blizzard finalmente lançou este shooter competitivo, as regras para aquilo que se esperava de um título deste género começaram a ser redefinidas. Numa altura dominada por Counter-Strike, Team Fortress 2, Unreal Tournament e Halo, foi uma lufada de ar fresco ver um grupo de heróis entrar em ação e trazer energia e habilidades únicas a um género que pouco ou nada variava há imensos anos.
Com um total de 21 heróis, cada um com suas características e posição na equipa, era gratificante ver seis membros criarem sinergias e estratégias entre si para suprimir a equipa adversária, seja a controlar pontos no campo de batalha, a escoltar um veículo, entre outros. E não se deixou ficar à sombra da bananeira durante oito anos. Outros 11 heróis foram lançados, novos mapas e modos de jogo disponibilizados, eventos, e mais uma panóplia de conteúdo que não só encheu os bolsos da Blizzard, como também a necessidade de mais conteúdo por parte dos jogadores.
Mas, como tudo na vida, inclusive de alguns títulos acima mencionados, o interesse começa a esmorecer e tudo parece estagnar no tempo. Eis que surge a tão esperada sequela de Overwatch e com ela todo um conjunto de novidades que voltam a redefinir aquilo que se pensava saber deste jogo.
Inicialmente, o primeiro e segundo jogos iam coexistir. Para quem tivesse o primeiro, ia apenas ter acesso a novo conteúdo (heróis, mapas, cosméticos e atualizações de balanceamento). Já os detentores da sequela iam ter direito a tudo do primeiro e ainda uma atualização gráfica e um modo PvE, que coloca os jogadores contra inimigos controlados pelo jogo enquanto progredimos pela história. Ainda assim, tanto os jogadores do primeiro como do segundo título iam jogar nos mesmos servidores, a separação prendia-se mais no conteúdo exclusivo da sequela. Tenho estado a falar no passado porque as coisas não correram muito bem para a Blizzard. Após as acusações de assédio dentro do estúdio, que até levaram à mudança de nome de um personagem, houve uma restruturação e os moldes a que tivemos acesso a Overwatch 2, foram outros.
Deixa de haver a separação entre os dois títulos, agora todos têm acesso à mesma versão do jogo, que será totalmente gratuita. Para quem tinha o primeiro, tem acesso direto a tudo o que já tinha anteriormente, e para novos jogadores, enquanto jogam vão desbloqueando todos os heróis e modos de jogo. Surgem três novos personagens, Sojourn, que já havíamos experimentado no último beta, Junkerqueen e Kiriko. Dano, tank e healer, respetivamente. Há ainda um Battle Pass que dá acesso imediato a Kiriko, a nova personagem de lançamento, e a vários itens de jogo que podem ir desde skins a sprays. O modo história ainda vai existir, mas será lançado posteriormente e, ao que tudo indica, será faseado, em vez de um só lançamento.
Mas indo, finalmente, ao que interessa, o que realmente mudou em Overwatch 2 e de que forma é que isso afeta o jogo em si?
Uma das grandes mudanças é a alteração do número de elementos de cada equipa, baixando de seis para cinco. Anteriormente, cada equipa era composta por dois tanks que aguentavam os ataques dos inimigos, dois jogadores que tratavam de encher os adversários de dano, e dois healers que mantinham a equipa a são e salvo. Agora, só é possível escolher um tank, o resto mantem-se igual.
Ainda que esta alteração possa não parecer muito significativa, a verdade é que mudou por completo o jogo. Anteriormente, o ritmo da partida era constantemente quebrado pela lentidão de alguns momentos chave, ou a equipa recuava para reagrupar, ou era complicado fazer frente à quantidade de escudos, ou conseguiam focar tudo num só adversário e não havia nada que pudesse ser feito, e eventualmente tinham de recuar e reagrupar de novo. Agora tudo isto é um problema do passado.
Perder um combate já não é sinónimo de uma pausa de 30 a 40 segundos, um embate de cinco contra cinco já não implica ter de jogar à volta dos escudos, agora todos os elementos da equipa são essenciais e podem causar mossa nos adversários. Tornou-se essencial conseguir ler a partida num primeiro choque entre jogadores e perceber se mantemos os heróis que temos ou se precisamos mudar. É um verdadeiro frenesim de tiros e trabalho de equipa como há muito não se via em Overwatch.
Para ajudar, foi criado um novo modo de jogo, o Push. Ao contrário do Escort, em que temos de levar um veículo do ponto A ou B, com checkpoints pelo caminho, aqui temos de acompanhar um robot que vai empurrar uma barreira enquanto a equipa estiver lá presente. Assim que a equipa adversária derrote todos, o robot passa a ser controlado pela equipa vitoriosa e faz o percurso inverso até chegar à barreira oposta. Assim que lá chegue, começa a empurrar essa também. E assim sucessivamente até que uma das barreiras chegue ao final. Se tudo o resto já ficou frenético, este modo consegue elevar a fasquia.
Também dois novos mapas foram adicionados, havendo um deles que provavelmente vai chamar bastante a atenção de jogadores portugueses. O primeiro é o mapa do Brasil, que pega na paisagem típica brasileira das favelas do Rio de Janeiro e a adapta a uma nova época sem nunca perder a identidade nem do país nem do jogo. A segunda, que tem exatamente esse mesmo cuidado, pega no nosso Portugal, mais concretamente em Lisboa e Porto, e coloca o mapa em destaque por o associar também ao novo modo de jogo. É outra sensação entrar num mapa que nos faz, estranhamente, sentir em casa. Parece tudo familiar, sem o ser. E é também impossível olhar para qualquer canto do mapa e não se ver perfeitamente onde foi inspirado. Mas não é de estranhar, já que o designer responsável pelos ambientes do jogo é um português.
Outra mudança, até já mencionada, é a nível gráfico. E apesar de ser bastante bem-vinda, visto estarmos a falar de um jogo com quase 10 anos em cima, só se consegue realmente notar nas diferenças quando postas lado a lado. Não é que não façam a diferença no panorama global, o jogo está incrível nesse aspeto e tem uma identidade bastante própria, mas Overwatch, apesar da idade, ainda se mantinha bastante atual por ter um visual mais “abonecado”, como se se tratasse de alguma produção da Pixar. E as curtas metragens que lançam para apresentar os personagens, parecem isso mesmo! Mas talvez esta mudança se tenha prendido com algo mais técnico que ultrapassa o mero mortal. Pelo menos a mim, ultrapassa.
Mas todas estas mudanças, necessitavam realmente de uma sequela? Tendo em conta o formato que queriam lançar inicialmente, talvez se justificasse, com o modo história a fazer parte do pacote. Contudo, entendo que apesar das mudanças a que tivemos direito, já estavam demasiado investidos numa sequela para esta o deixar de ser. Eventualmente isto funcionava perfeitamente como uma grande atualização, até um evento que iria redefinir o jogo por completo, e assim foi, mas sem existir o peso que é ter um 2 associado ao nome.
Infelizmente, o lançamento oficial desta revitalização de Overwatch não foi o melhor. Seja por fatores internos, como não estarem preparados para a quantidade de jogadores que iam aceder a este título, agora gratuito, ou por fatores externos, como terem sido alvo de repetidos ataques DDoS, ajudou a manchar um pouco a experiência. Filas de espera enormes que terminavam em erros, ou apenas a recomeçar aleatoriamente, jogadores a ser expulsos a meio das partidas com erros de conexão, ou nem ser possível conectar de todo. Nem tudo é culpa deles, mas a falta de preparação é, e sendo este um jogo de sucesso como é, vindo de quem vem, muito poderia ter sido evitado se tivesse sido previsto. Na altura em que vivemos, não contar com este tipo de problemas, é simplesmente lamentável.
Porém, e vendo tudo aquilo que o jogo é, com um 2 a mais ou não, não há propriamente um ponto negativo em haver esta mudança. No final de contas, é uma alteração que veio beneficiar tudo e todos, e é isso que interessa. Uma experiência nova, com um leque de personagens já nossos conhecidos, e algumas novas também, que se adaptam a um novo estilo de jogo e aproveitam para manter Overwatch fresco e ativo num mercado que cada vez mais oferece outras alternativas no espaço competitivo.
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