Para ser honesto, quando comecei a jogar The Ascent, o jogo de estreia do estúdio indie Neon Giant, pareceu-me que não me ia chamar muito a atenção. Mas estava muito enganado! Um jogo que à primeira vista parece simplesmente Cyberpunk ao estilo Diablo, rapidamente se torna muito mais que isso.
Sou o primeiro a admitir que é um pouco desapontante quando começas o jogo e tens umas opções muito limitadas de caracterização e criação do/a teu/tua personagem. Mas isso é a magia de The Ascent, até nestes pequenos detalhes se fazem sentir parte do mundo.
Em The Ascent, começas o jogo com um simples trabalhador da empresa Ascent, a empresa mais rica do mundo e que é dona de uma cidade gigante. Tu juntaste-te aos quadros desta empresa, tal como muita gente neste mundo, à procura de uma vida melhor e acreditando nas promessas de grandiosidade e de uma vida luxuosa que a empresa te faz.
Mas quando és contratado, apercebeste que nada disso é verdade. Como todos os novos recrutas, és colocado numa posição de limpeza de canos, recolhedor de tecnologia abandonada e qualquer outra tarefa que os membros mais alto da empresa/cidade não querem fazer. Passas a maior parte do teu dia debaixo do chão sem sequer veres muito da cidade e não têmem consideração a tua educação, experiência ou treino.
The Ascent é um jogo com uma mensagem política e social muito forte, sobre como governos e empresas manipulam e enganam as pessoas, para poderem torná-las em escravos e darem-lhe o mínimo possível em troca. Neste caso, o que prometem em troca é que, qualquer pessoa, não interessa raça (há muitas raças, mas já falo mais à frente), religião ou história de vida que seja contratada por The Ascent pode subir ao topo, se trabalhar bem. O problema é que quando eles dizem “trabalhar bem” querem dizer “entregar toda a tua vida à empresa e ser como que um robô sem vida ou personalidade que cegamente segue as suas ordens”.
E é por isso que quando começas o jogo, tens muito pouca escolha de roupa, armas, entre outros. A personagem principal tem muito pouco dinheiro e posses no seu nome, mas isso com o jogo vai mudar.
Há medida que vais jogando e vais evoluindo na história, vais rapidamente conseguindo acumular dinheiro, bens e influência dentro da empresa, abrindo-te portas para missões que pagam mais e te fazem ser mais reconhecido pela cidade. Mas tem cuidado com as missões que escolhes. As decisões que tomas em The Ascent são muito importantes, e tanto as missões como as escolhas de diálogo que fazes vão influenciar as tuas relações com as várias fações dentro desta cidade.
E, apesar de esta cidade ser um símbolo bastante claro de uma distopia, é também aqui que está a alma deste jogo. Tudo em The Ascent é criado e apresentado ao mais pormenorizado detalhe! Ao explorares este mundo, nunca te vais aborrecer pois em todos os cantos tens um detalhe para explorar, um NPC com quem falar e partilhar histórias ou até um segredo por descobrir.
Tudo isto apresentado de forma bastante pormenorizada, que apaixona qualquer fã do estilo Cyberpunk. São tanto os detalhes, que até consegues ver os pormenores dos cabos que alimentam todas as luzes da cidade no teu ecrã!
Mas não só visualmente The Ascent é detalhado, também em termos de Lore é um dos jogos mais detalhados que já explorei. Ao subires dentro da cidade (literalmente, pois há medida que vais ganhando influência e dinheiro tens acesos aos níveis superiores da cidade), vais tendo cada vez mais aceso a informações sobre o funcionamento da cidade, dos seus grupos organizados, da sua organização e até das mais de 10 raças presentes no jogo e de muitos NPCs.
Sendo um RPG futurístico, The Ascent tem muitas raças de alienistas diferentes que vão reagir de maneira diferente aos teus comportamentos e diálogos. Não penses que a Lore e os ficheiros que encontram só estão ali para dar “sabor” ao jogo, estão ali para te ajudar. Alguns NPCs irão preferir que fales com eles de forma mais calma, outros de forma mais agressiva. Alguns NPCs irão ser muito bons a negociar e a regatear, enquanto outros serão melhores a descobrir segredos. Fala com o máximo de personagens e NPCs que conseguires e prometo-te que te vais apaixonar pelo mundo tanto como eu.
Não estou a dizer que o jogo é perfeito. Em termos de combate, por exemplo, o jogo deixa algo a desejar. Seguindo o clássico modelo de Diablo, em que tens comandos completamente separados de movimento e de luta, o que por vezes torna o combate complicado, especialmente para novos jogadores. Não ser um “combate por turnos”, como muitos RPG, torna as lutas mais fluídas e intensas, mas também as torna mecanicamente compiladas contra alguns inimigos com mais movimento.
Mas para te ajudar, The Ascent tem dois mecanismos de combate muito específicos. O clássico “cover” onde consegues estar escondido/a e a disparar ao mesmo tempo e o “apontar alto”, que te permite apontar a tua arma mais alto que o normal.
Se és como eu, ao leres estes mecanismos pensaste imediatamente que o “cover” será o mecanismo que vais usar mais, mas enganaste. Sendo um jogo com um combate muito fluido e onde os inimigos sabem sempre onde tu estás, muito rapidamente estes conseguem aproximar-se de ti e tornar o “cover” inútil, sendo suposto só usares este mecanismo contra inimigos específicos.
Por outro, o “apontar alto” é um mecanismo que vais usar muito, especialmente contra bosses. Como os bosses são sempre maiores que os seus minions, este mecanismo permite-te escolher se preferes disparar contra as ondas de minions que estão à frente do boss ou disparar diretamente contra ele, tornando todas as lutas num jogo bastante de tiros bastante tático.
Não vou negar que, por vezes, aumentos de dificuldade repentinos que tornavam o progresso impossível e me obrigavam a ir derrotar pequenos inimigos, para evoluir de nível, se tornava frustrante, mas The Ascent conseguia sempre trazer-me de volta com os pequenos detalhes do seu mundo.
Porque no final de contas é isso que The Ascent é na sua essência. Um jogo sobre matares o máximo número de inimigos que conseguires, mas que consegue entregar-nos muito mais que isso e dar-nos um mundo vivo e complexo por que nos apaixonar.
Se não fores grande fã de jogos longos e com muito detalhe, The Ascent pode não parecer tão atrativo para ti. Mas mesmo que te queiras focar apenas na luta, o jogo tem muitas armas, armaduras e “aumentos físicos” (que te dão poderes especiais consoante o que introduzires no teu corpo) ao clássico estilo Cyberpunk, garantindo que o jogo nunca se vai tornar aborrecido.
Para além disso, o jogo também permite um modo Co-Op caso querias jogar com os teus amigos (cada um podendo criar o seu personagem) disponível em modo online ou presencial.
The Ascent é um jogo que nos entrega o que muitos outros jogos prometeram e falharam: Um mundo Cyberpunk vivo, complexo e apaixonante; uma mensagem política e social forte e um equilíbrio perfeito entre combate e história que vai fazer as delícias de qualquer fã de RPGs.
Esta análise foi possível com o apoio da Curve Digital/Neon Giant!
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