The Medium ficou disponível no dia 28 de janeiro e era um dos títulos que mais aguardava na nova consola Xbox. Neste novo exclusivo das plataformas Xbox, também disponível no Game Pass do PC, podemos encontrar algo muito diferente do que temos vindo a ser habituados nas consolas da gigante americana. Um estúdio independente, com vários anos de produção, com uma ideia muito ambiciosa e com um produto que parecia deliciar os fãs de alguns dos clássicos de terror.
Tenho de admitir que o anúncio deste jogo deixou-me em pulgas por saber mais, mas ao longo dos vários meses fui tentando manter o máximo de secretismo. Um jogo como este, que se promete como focado numa narrativa misteriosa, é preciso alguma cautela nos materiais promocionais, porque qualquer pormenor que se descubra pode ser crucial para uma experiência diferente. Tentando agora deixar este meu lado de muito interessado, deixem-me contar a história da minha aventura. Sem spoilers!
Dia 28 de janeiro chegou, o jogo já estava pronto para jogar na minha Xbox Series X, mas só ficou disponível em Portugal às 16h. Espera difícil aquelas horas, quando o dia foi preparado para me focar na aventura. Explorei um pouco de Cyberpunk 2077 pelo meio, que terá análise em breve. Chegando a hora, viajei até à Polónia, para finalmente descobrir o mundo de The Medium. Não tendo ideia nenhuma dos acontecimentos e mesmo com poucas ideias do aspeto final deste jogo, tive logo à partida uma agradável surpresa. O que esta equipa independente conseguiu aqui apresentar é de uma qualidade surpreendente. Antes sequer de assistir ao vídeo introdutório, temos um pequeno momento jogável, com algumas notas sobre o que podemos ou não fazer e aqui é possível ter um pequeno deslumbre da qualidade de imagem apresentada. O toque de realismo, aliado à transformação de locais existentes neste mundo do jogo é um dos grande pontos deste jogo. É bom ver outros locais do mundo como a Polónia neste caso, a serem utilizados como cenário nos videojogos.
Apesar deste aspeto muito interessante, o jogo apresenta-se com um grande foco na sua narrativa e se esta não é boa, então não será a imagem que salva o jogo. Em primeiro tenho de referir que faltam mais jogos deste género à consola da Microsoft. Jogos totalmente focados em dar uma grande experiência ao jogador, que não precisam de multiplayer, ou grandes mundos abertos, ou mesmo de 50 horas carregadas de missões secundárias. Aqui temos entre 6 a 8 horas de jogo, que vão depender da vossa velocidade, bem concentradas e repletas de momentos intensos. Para alguns pode ser um jogo curto, mas eu adoro estes jogos quando são bem aplicados. Estamos perante um caso de sucesso, pois o tempo encaixa perfeitamente na história e julgo que a tentativa de prolongar só iria danificar a experiência.
A história começa simples. Aliás, considerei a primeira hora um pouco confusa. Estava à espera de algo que nunca mais acontecia. A ideia que tinha era que o jogo me ia deixar completamente estupefacto, mas ainda tinha muito para explorar. Os primeiros momentos colocam alguma água na boca, mostrando que as capacidades da personagem tem um propósito. Estamos perante uma história em que a personagem faz parte daquele mundo e sabe da sua existência. Esta ideia deixou-me realmente surpreso e a pensar se não iria remover muito do misticismo ao longo da aventura, mas estava enganado, muito enganado. É quando chegamos ao hotel Niwa que as coisas se começam a tornar interessantes e as explicações começam a surgir. Esta não é uma história para vos assustar com saltos e gritos. Acontecerem dois ou três momentos de susto, mas nada mais que isso. O verdadeiro terror está na nossa mente. A exploração da história começa a desvendar segredos realmente macabros, mas principalmente muito próximos da realidade. Obviamente que não me refiro às questões psíquicas da personagem, mas sim às histórias das personagens do passado/presente. A busca pela verdade é assustadora e a forma como é transmitida consegue ser ainda mais aterradora. Tenho a certeza que vão ficar com a vossa cabeça à roda com tudo o que é aqui contado.
The Medium explora o terror psicológico como há muito tempo não era feito. Mesmo nos jogos da editora, lançados ao longo dos últimos anos, que também eram focados no terror psicológico, este superou facilmente o que foi contado nos restantes. A complexidade da história e a forma como a nossa personagem se liga a todos os momentos. A sensação de que estamos a descobrir algo verdadeiramente assustador, mas que é necessário. É uma história com tamanho significado e carregada de ideias que são totalmente reais. Foram vários os momentos em que fiquei boquiaberto, por não estar à espera daquilo. Se vão pela narrativa, então este jogo é para vocês. Começa simples como já referi, mas o emaranhado começa a fazer todo o sentido e encaixa de forma tão natural que quase parecia uma caixa de lembranças reais.
A forma como exploramos esta história volta a remeter para os clássicos do terror psicológico nos videojogos, mais em causa estão os jogos da saga Silent Hill. Este jogo é uma total homenagem a essa saga que hoje está próxima de desaparecer. O controlo da câmara não existe, utilizando o sistema do primeiro Silent Hill e dos primeiros jogos da saga Resident Evil. Em nenhum momento isso foi um problema, aliás deixou-me mais atento a outras questões. A exploração é muito direta ao necessário. Podemos mover o nosso personagem livremente pelas áreas disponíveis e descobrir vários segredos ao logo do caminho. Desde objetos que ajudam na história principal como ficar a conhecer bocados de histórias paralelas que ajudam a compreender o cenário completo.
Quando falamos de The Medium, uma das coisas que deverá ter saltado à vista de muitos foi a utilização do outro mundo. Sim, este jogo tem um motivo para ser exclusivo da nova consola, mas não são os gráficos. São os dois mundos. Estes cenários, que se encontram em constante ligação, são criados em simultâneo pela consola e apresentam ambientes totalmente distintos. As mecânicas utilizadas em desafios ao longo da aventura fazem-nos viajar entre os dois mundos. Há várias formas disso acontecer. Inicialmente é automático em certas zonas do jogo. Ao avançarmos, abrem-se outras possibilidades como a de desconexão temporária do corpo no mundo real, até à total desconexão entre os dois mundos. Este último é feito através dos espelhos. A forma como funciona é instantânea e a viagem entre os dois mundos é muitas vezes vista nas duas perspetivas em simultâneo. Estão muito bem desenhadas e transformam completamente a nossa forma de exploração. A procura por um objeto torna-se alvo de questões. Essa forma de utilizar esta mecânica foi muito inteligente e funcionou perfeitamente.
Ainda há um ponto que gostaria de pegar: a banda sonora. The Medium tem como compositores um nome bem conhecido: Akira Yamaoka. Para quem não sabe quem é, este foi o senhor responsável pela banda sonora de todos os jogos da saga Silent Hill. Estamos a falar de alguém com muitos anos a tornar jogos ainda mais aterradores a partir do som. Se houve algo que desde o anúncio deste jogo me fez ficar mais atento foi mesmo saber que este senhor estava no projeto. Vale a pena? Vale. O ambiente torna-se ainda mais intenso, pesado e estranho com todo a música que foi elaborada para este jogo. A composição flui ao longo da aventura de forma tão natural e interessante. Não seria justo sair deste ponto sem dar crédito à equipa que criou e editou todo o ambiente sonoro deste jogo. Funciona e encaixa que nem duas peças de Lego em todo o seu esplendor.
The Medium é muito mais que os primeiros momentos de jogo. Se forem como eu, vão ficar com sérias dúvidas sobre a verdadeira profundidade da narrativa. Os primeiros momentos não transparecem aquilo que o jogo tem para oferecer e são apenas amostras do que está prestes a acontecer. Explorem, que este merece o vosso tempo. Além de que não precisam de uma grande dose de horas. Vão ao Game Pass, façam download e aproveitem este fim de semana para entrar neste mundo extraordinário. Explorem os cenários incríveis da Polónia, onde as florestas nos relembram as florestas em Portugal. The Medium precisa de ser jogado por todos. É uma adição de grande calibre ao catálogo da Xbox. Demonstra que ainda há espaço para jogos como Silent Hill, se bem explorados. É uma linda homenagem aos videojogos de terror psicológico dos anos noventa. É um excelente jogo. Se tens uma Xbox ou um PC com capacidades para este jogo, então do que estás à espera?
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