Perfect Blue
Publicado a 24 Out, 2021

Começo por dizer que este filme é uma montanha russa de emoções. Cheio de reviravoltas no enredo, acaba por trazer uma imersão enorme para quem assiste. Perfect Blue é o filme de anime escolhido deste ano para o Ciclo de Horrores pelo seu carácter tenebroso, que vai aumentando à medida que o filme avança. A lembrança que existe sempre uma sombra por onde caminhamos, um reflexo visual que demonstra a silhueta de cada um. Este reflexo pode ser metáfora de quem somos, ou de quem aparentamos ser. É descrita a história de uma cantora Pop do Japão, que percebe que um caminho como atriz tem muitos mais frutos, então decide trocar uma carreira pela outra. O problema é que existe uma sociedade de fãs que a acompanha desde quando cantava.

Esta obra retrata os prós e contras da fama e do reconhecimento. É natural que quando uma pessoa quer ser falada por diferentes bocas, queira se expor a câmaras, uma exposição visual projetada pelos mais diversos ecrãs. Aquela face, aquela imagem que aparece num concerto ou então dentro de uma televisão em nossa casa, vai deixando marcas, sequelas em forma de memórias e então é natural lembrar uma celebridade, um modelo ou uma cantora. É facto que em alguns casos estas sequelas vão se tornando em algo mais, uma necessidade de querer ser mais que estimulo visual. Consequentemente, existe uma demanda para fazerem parte da vida do ídolo, impulsionando diferentes atos, por vezes obscenos, que estão representados neste filme.

À medida que o história vai avançando, a loucura proveniente da constante perseguição da sombra que segue a protagonista vai se intensificando, procurando destabilizar tudo e todos, o espectador inclusive. Vão havendo ruturas tanto na personalidade de Mima como em analepses que vão surgindo na ação, enfatizando a insegurança e medo que tão bem relacionam com o enredo. Gostei muito da forma como nunca tinha a certeza do que era o presente na ação, reforçando ainda mais o ambiente de delírio.

O que consiste ser uma obra de terror? É pelo puro grafismo de sangue e cenas doentias? Se pararmos para pensar, o que será que carrega mais medo ao espectador? É o momento do susto ou o suspense? Para mim, o desconhecido transfere-me mais pânico do que propriamente assistir a uma criatura medonha ou o cortar de um membro, simplesmente porque sei que aquilo que é surpreendente, aquele momento de choque, de algo aparecer na vasta escuridão da noite tem mais impacto. Este filme fez-me pensar nesse ponto, apesar das cenas de violação e crime que apresenta, o que me deixou mais inquieto foi a sombra, presságio de que algo iria acontecer.

Quero falar da mensagem que consegui receber, algo que me relacionei ao ver esta história. Conforme Mima vai adentrando o mundo do cinema, a sua imagem de cantora Pop vai se denegrindo. Falo da primeira carreira, pois cantar era algo que a protagonista quis sempre ser, o sonho de criança. O mundo adulto é perigoso, pois muitas vezes fazemos coisas que o nosso eu anterior, a nossa memória de quando fomos crianças nunca teria pensado em fazer. Este traço do passado vai frequentemente assombrando o nosso eu do presente, metáfora esta que está muito exposta na ação de Perfect Blue, personificando uma Mima do passado.

O resto fica para vocês, Geeks, descobrirem. Não gosto muito de dar spoilers sobre aquilo que escrevo e vou tentando transmitir aquilo que cada obra me traz e faz pensar. Perfect Blue é uma obra que foi transmitida em fevereiro de 1998, ano em que o Geek que vos escreve nasceu. Embora já tenha alguns anos, não deixa de ser contemporânea, seja pelo estilo de desenho descontraído e fluido, seja pela criatividade de planos e cenários. Recomendo vivamente para quem queira sentir medo da sombra, algo que estará a espreita no escuro.

Este artigo pertence ao especial

Azul Perfeito
Perfect Blue (パフェクトブルー)
Incrível
Realizador:
Argumento:
Ano: 1998
Tipo: filme
Distribuição:
Estúdio:
9
  • Positivo
  • Analepses, sequências dinâmicas
  • Desenho descontraído
  • Ambiente sonoro
  • Plot twists
Escrito por:
Rui Brandão
Nascido no norte, mais precisamente no Porto. Desde novo que sempre gostei de jogar videojogos, principalmente de computador. Frequento a universidade, mas não deixo de me alimentar com entretenimento. Gosto muito de ver animes, mas também acompanho séries e filmes.