Kingdom T1 e T2
Publicado a 25 Out, 2020
Kingdom é uma série de drama e horror, claramente inspirada numa banda desenhada sul-coreana. O que quero dizer com “claramente” é que tem uma história bastante semelhante ao que costumo ler nos artigos sobre manga da Cristina Gomes, no sentido em que foca muito no valor da realeza, com um protagonista estoico, que precisa de mostrar o seu valor para recuperar a honra perdida.
A história revolve em torno da família real, sendo que o protagonista é Lee Chang (Ju Ji-hoon), um jovem príncipe com o coração no sítio certo que se vê no meio de várias conspirações quando o seu direito ao trono é posto em causa com a proximidade do nascimento de um herdeiro mais legítimo.
Claro que nada disso seria um problema se o reino (“Kingdom”) tivesse um regente em plena capacidade, mas Sua Majestade ficou terrivelmente doente e não pode sequer ser visitado. Corre até o rumor de que morreu, mas qualquer um que se atreva a espalhar essa palavra vê a sua cabeça e a dos seus familiares receberem uma viagem grátis em que o bilhete não inclui o resto do corpo. Mas será que Sua Majestade tem apenas um caso extremo de varicela, como a família real insiste? Felizmente (para nós), alguém leva a doença para fora do palácio real, dando origem a todo o caos e acção que vos levará a fazer pipocas.
Resumindo muito, Kingdom é como Walking Dead (calma, estou a referir-me às primeiras temporadas), mas na Coreia, durante a dinastia Joseon. Há armas de fogo, mas poucas, e a maioria do combate é travado recorrendo a katanas, lanças, arco e flecha, ferramentas agrícolas, entre outros.
“Então, mas comparaste isto ao Walking Dead porquê? Combate contra quem?” -perguntam vocês e bem. Bem, há zombies! E não são aqueles zombies que demoram 30 minutos a arrastar-se pelo chão enquanto as suas vítimas ficam paralisadas em choque e terror. Não! São zombies ágeis, ridiculamente flexíveis e bastante rápidos.

Na sua aventura, Chang encontra outras personagens que virão a mudar o destino do reino. Portanto, além do protagonista, há o seu fiel guarda pessoal, que também é o seu amigo mais próximo, há a inteligente curandeira que não tem medo de arregaçar as mangas, há o palhaço cobardolas que ninguém sabe como fica vivo tanto tempo e há o misterioso caçador com um passado desconhecido que se revela precioso em combate.

De uma forma geral, a série tem um bom ritmo, consegue desenvolver-se de forma surpreendente e dá às personagens a devida atenção, sem descurar no suspense, no mistério e num pouco de humor ocasional.
Em relação à imagem e de qualidade dos cenários e guarda-roupa (lembrando que é uma série de época), é o melhor que se pode pedir. O meu maior ponto negativo é o final da primeira temporada. O clímax não existiu, como se fosse passado para a temporada seguinte, o que se reflete num “cliffhanger” demasiado grande. Felizmente, a segunda temporada já está disponível e tem um final mais gracioso. Mesmo que não haja uma terceira, a história está fechada o suficiente para não deixar a audiência frustrada. Por outro lado, nesta segunda temporada o foco vira-se um pouco mais para o drama político e menos para os zombies, apesar de ter bastantes cenas de acção.
Concluindo, Kingdom encaixa no Halloween de 2020 como uma luva, misturando a típica aventura asiática com uma história de pandemia.
As duas temporadas de 6 episódios disponíveis na Netflix são muito fáceis de ver de jorrada e tanto é boa para ver sozinho (ou em “conchinha” com a nossa melhor metade) como com amigos (“conchinha” opcional), na companhia dos quais podem fazer troça, por exemplo, de portas que caem com o vento ou do fiel chapéu que nunca abandona a cabeça do príncipe.
Para terminar, vamos responder à pergunta da praxe: Para quem é esta série? Bem, se gostam de lutas de katana, vão gostar disto. Se gostam de histórias de zombies, vão gostar disto. Se gostam de Walking Dead, vão gostar disto. Se gostaram de Walking Dead, mas deixaram de gostar porque ficou meloso e aborrecido, vão gostar disto. Se gostam de terror sem jump-scares baratos, vão gostar disto. Se gostam de chapéus bem construídos, vão gostar disto.

Este artigo pertence ao especial

Escrito por:
Pedro Cruz
"Spawned" em Aveiro no fim do início da década de 90, apreciador de amostras de imaginação e criatividade, artesão de coisas, mestre da fina e ancestral arte da procrastinação e... por hoje já chega. Acabo isto amanhã...