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Prince of Persia: The Lost Crown
Publicado a 13 Fev, 2024

O regresso às mil e uma noites de aventura e muita areia!

Longe vai o tempo em que uma simples figura vestida de branco e repentinamente atirada para uma masmorra se via em mãos com a difícil tarefa de sobreviver e salvar a filha do sultão das garras do vizir, que tenciona ter poder sob a Pérsia medieval. Isto era uma verdadeira corrida contra o tempo, já que em 60 minutos tudo terminava, independentemente do nosso progresso no jogo. 

O Prince of Persia original era um jogo cruel, viciante e desafiador, e que não só cresceu e definiu um género numa indústria ainda algo embrionária em 1990, como foi das poucas sagas que também me viu crescer e acompanhou em diferentes momentos da minha vida. Os dois primeiros títulos ocuparam grande parte da minha infância, a primeira incursão da saga no 3D encheu as vistas a um recém adolescente, e no pico dessa fase generacional surgia o título que vinha revitalizar por completo a saga, em The Sands of Time.

Com as seguintes sequelas, que começaram a diluir o interesse na saga, e um novo título em 2008 bastante interessante mas que não pegou da forma como a Ubisoft esperava, começava a parecer cada vez mais improvável o regresso deste clássico. Não que a Ubisoft não ande há anos a tentar fazer um remake de The Sands of Time, e os jogadores cada vez mais a desesperar por essa possibilidade, mas parece que a produção tem estado amaldiçoada desde o início, daí que mais vale nem contar com isso. 

Eis que, catorze anos depois, nos chega finalmente às mãos a primeira grande aposta da Ubisoft nesta saga, uma que parece quebrar com as amarras do passado e tenta revitalizar aquilo que conhecemos de Prince of Persia ao trazer o jogador para caminhos familiares.

Obviamente que o único ponto mais familiar de The Lost Crown acaba por ser a perspectiva na qual jogamos, que é remanescente dos primeiros títulos dos anos 90, mas toda e qualquer semelhança com o passado começa e acaba exatamente aí. O que agora temos a partir daqui é uma reviravolta na forma como olhamos para uma história que gira à volta do príncipe da Pérsia, mas sem o colocar em primeiro plano. 

Um grupo de guerreiros, intitulado de Immortals, é chamado pela rainha da Pérsia numa tentativa de travar as incessantes investidas do império Cuchana no Persa. Após a vitória deste grupo sob os Cuchana, os mesmos são congratulados pelo seu trabalho, nomeadamente o de Sargon, o nosso personagem, que conseguiu derrotar o general e fazer os Immortals cair nas boas graças do império Persa. É durante as celebrações desta vitória que a nossa história começa, onde o príncipe da Pérsia é raptado e cabe a Sargon, e aos Immortals, resgatar o herdeiro do trono. 

Os moldes pelos quais isto será feito é através de um estilo de jogo que é novo para esta saga. Temos todo um mapa para explorar e procurar pelo príncipe. Somos livres de fazer o que bem entendermos, seja ir diretos a missões principais, secundárias ou apenas explorar, porém vamos encontrar alguns obstáculos pelo caminho que só mais tarde podem ser ultrapassados, quando tivermos novas habilidades que nos permitam desbravar novos caminhos. Isto é o chamado Metroidvania, que combina o nome de jogos da saga Metroid Prime e Castlevania, que tinham mapas gigantes mas que só podiam ser descobertos na sua totalidade com o eventual progresso do nosso personagem, seja ao ter novas ferramentas ou habilidades, que nos permitem continuar a progredir eficazmente. 

Como seria de esperar, existe assim muito andar para trás e para a frente, mas para quem gosta do género isto é um ponto (bastante) positivo. Se preferirem encurtar estas viagens, há vários pontos espalhados pelo mapa que possibilitam o teletransporte entre eles o que sempre alivia um pouco os tempos de viagem. Explorar o mapa na sua totalidade não é uma necessidade real, já que acredito ser totalmente possível terminar esta aventura sem o fazer, mas é certamente mais fácil se o fizermos e, além disso, há tanto para descobrir que seria uma pena não o fazer. 

Há tesouros escondidos em pequenos puzzles, missões secundárias que nos fazem derrotar inimigos especiais, ou até conseguir ultrapassar uma série de obstáculos mortais que colocam à prova a nossa perícia e agilidade. Isto tudo reverte a nosso favor já que nos possibilita comprar e evoluir os nossos itens de forma a conseguirmos fazer frente aos novos desafios que se avizinham. 

E há muito, muito, para explorar! The Lost Crown é bem capaz de ter um dos maiores mapas que já vi num jogo deste género. Sempre que pensava que já não havia mais nada, surgia toda uma nova área cheia de novas possibilidades e segredos para descobrir. Há ainda duas formas de o fazer, seja essa forma totalmente às cegas (e podendo nós próprios adicionar pontos de interesse no mapa ou apenas explorar), ou ainda com guias, que marcam o mapa com objetivos e próximos passos a dar. Ainda que recomende a primeira opção, a segunda é totalmente viável por nos permitir explorar o mapa com mais certezas. 

Mas isto só resulta, e nos faz ficar genuinamente entusiasmados por estar sempre a surgir novo conteúdo para explorar, porque a jogabilidade é incrível. O movimento de Sargon é fluído e acontece de forma bastante natural ao pegarmos no comando. Saltar por cima de obstáculos, deslizar, desviar de cilindros cobertos em picos, e no final ainda conseguir dar aquele salto que pensávamos estar longe de conseguir ser feito, é incrivelmente satisfatório. 

O mesmo pode ser dito do combate, que fica extremamente divertido quando se alia a agilidade de Sargon aos diferentes ataques e combinações que podemos fazer. E com a adição de mais e diferentes habilidades, tanto complica como se torna ainda mais divertido, o combate e exploração, que nos coloca em situações que inicialmente nos fazem duvidar se alguma vez vamos conseguir sair dali, como quase nos forçam a insistir e insistir até conseguir alcançar a vitória. 

Claro que não está livre dos seus problemas. Houve um ou dois momentos em que genuinamente pensei que estavam a esticar a duração do jogo sem nenhuma razão válida para isso. Se me preocupei muito? Não, porque eventualmente estava a gostar de ter mais tempo de jogo, mas por vezes o balanço entre ter uma história concisa e um jogo mais coeso está mesmo em acertar na medida certa da duração de um determinado título. Aqui conseguiram sempre dar a volta por cima, mas pode não ser o caso para alguns jogadores. Pior foi quando num inimigo final fiquei invisível e não podia ser atacado, mas podia atacar. A altura em que aconteceu foi na fase do “já sei como te derrotar, é só uma questão de aguentar e ter paciência”, mas tenho exemplos de outras pessoas que passaram exatamente pelo mesmo, noutras plataformas e em momentos distintos do combate. Ou seja, isto não é um erro assim tão isolado quanto isso, bem pelo contrário, é até possível de recriar seja em que momento do jogo for. Eu agradeci o erro, mas houve quem nem tivesse genuinamente tentado derrotar o adversário e teve ao seu dispor uma invulnerabilidade temporária. 

Ainda assim, e não sendo nada disto algo que arruíne a experiência por completo, este The Lost Crown tem uma jogabilidade como poucos têm, exploração e combate divertidos, visualmente distinto de tudo o que temos visto, e que é esperado de Prince of Persia, banda sonora fantástica e uma história que consegue surpreender até ao último segundo, onde até uma pequena lágrima é possível soltar quando menos esperamos. 

Não querendo já vir de barriga cheia fazer afirmações que podem vir a ser negadas por lançamentos futuros, eu acredito que Prince of Persia: The Lost Crown é muito bem capaz de ser um dos jogos do ano, e quem sabe o jogo do ano para muitos jogadores. Ainda há tanto para ser lançado e descoberto que é quase ridículo já estar com estas certezas, mas ficarei incrivelmente surpreendido se este título não fizer parte não só do meu top 10 como do de muitos prémios e eventos por este ano fora. 

Prince of Persia: The Lost Crown
Prince of Persia: The Lost Crown
Incrível
Duração: (-3 min)
Ano: 2024
Saga/Série: Prince of Persia
Distribuição:
Lançamento: 18 de Janeiro de 2024
9
  • Positivo
  • Jogabilidade fluída e divertida
  • Visualmente distinto e aprimorado
  • Banda sonora
  • Negativo
  • Por vezes esticou-se mais do que precisava
  • Um ou outro bug que afeta o jogo
Escrito por:
Marco Almeida
Viciado em tudo o que conte uma boa história, desde cinema a videojogos, séries a banda desenhada, e até um bom jogo de tabuleiro. Tudo é motivo para me atirar de cabeça a universos alternativos. E já agora, o Scorsese está errado; o MCU é o pináculo da sétima arte! Quem respira, concorda!